Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 28

aos nove anos de idade, na hora de ir à escola, levou a garrafa de cachaça do pai, um dos cachimbos e decidiu pedir ajuda para a diretora, que acionou o Conselho Tutelar. Cada filho foi para um abrigo, com exceção do mais novo, ainda bebê, que continuou com a mãe. No abrigo, ao qual se refere como Casa, onde morava com outras 35 meninas, recebia visitas da mãe, dona Cissa, de quem, influenciada por uma das colegas, roubava trocados da bolsa. O dinheiro, as duas gastavam em doces e balas que não faziam parte do cotidiano no lar. Renata era uma criança brigona, se desentendia com as outras crianças e com as educadoras. — Tudo eu resolvia na agressão. Era a forma como eu fui criada, né? Era repreendida pelo temperamento com frequência, mas as educadoras nunca cogitaram mandá-la aos abrigos destinados às “crianças problema”. Enxergavam nela potencial. Depois de uma passagem pela delegacia, por agressão a alguma das colegas de abrigo, o juiz que cuidava de seu caso determinou- -lhe acompanhamento psicológico e psiquiátrico. A menina acatava a ordem, o que não a impedia de tocar o terror nos consultórios das psicólogas pelos quais passou, jogando no chão cadeiras, mesas e o que mais estivesse a seu alcance. — Naquela época, eu não tinha muita maturidade. Mas tinha sonhos grandes. Queria ser “militar do quartel”, além de cirurgiã, para salvar vidas na Guerra do Iraque que via nos noticiários. Quando uma das educadoras da Casa anunciou que indicaria algumas meninas para a Guarda Mirim, decidiu que era o que queria. Estudando na escola do projeto, que promove formação técnico-profissional para jovens em situação de risco ou vulnerabilidade social, poderia pleitear uma vaga no Pelotão de Oficiais Mi- 28 | LEVANTE