Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 20
informações que devem lhes servir de base aparentemente não existem
e, se existem, não estão acessíveis, situação que se confirmou no
desenvolvimento deste livro. Quando se trata de pensar a condição
feminina no ambiente prisional, esse problema adquire ainda mais
peso.
Gênero e cárcere
Das cerca de 38 mil pessoas privadas de liberdade do Paraná,
pelo menos 1.372 são mulheres. Em nível nacional, as mulheres
encarceradas são mais de 42 mil. De acordo com o Levantamento
Nacional de Informações Penitenciárias - Infopen Mulheres de 2018,
que contém dados referentes ao ano de 2017, metade delas tem menos
de 29 anos e 62% é negra. Ainda: 45% não completou o ensino
fundamental e 45% estão presas sem ainda terem sido condenadas
de forma definitiva.
Já é lugar-comum para estudiosas da intersecção entre gênero
e cárcere que o ambiente prisional é um catalisador das desigualdades
entre homens e mulheres. Desde a motivação das prisões dessas
mulheres, frequentemente relacionadas com atividades criminosas
de companheiros ou parentes, ao abandono que vivenciam na prisão,
passando pelas janelas das celas — altas demais para o tamanho
médio das mulheres brasileiras — até a ausência de lixos para o
descarte de absorventes e espaços para a convivência de mães e seus
bebês nascidos encarcerados.
Se é difícil passar pela experiência da prisão, mais complicado
ainda pode ser sair dela. Para algumas mulheres, a liberdade nunca
vem. Continuam presas ao companheiro, ao estigma, à pobreza
e à falta de oportunidades. Este livro se propõe a tratar do retorno
das mulheres que caíram ao mundo além das grades da unidade pri-
20 | LEVANTE