Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 17
foto com a câmera do Conselho da Comunidade — depois, tiraria
também as fotos que ilustram este livro. Elisabete passou um papel
e uma caneta, para que elas anotassem seus nomes e endereços e a
foto fosse posteriormente enviada para suas famílias. Uma delas, que
aparentava ter no máximo 20 anos de idade, foi anotando o seu e o
das outras.
— Como é mesmo o seu sobrenome, amiga? — perguntou
para a concentrada mulher ao lado dela, já na casa dos 40 anos, que
cortava teimosos pedaços de fio soltos na costura de uma calça camuflada.
Conversamos com talvez vinte mulheres naquela manhã. Algumas
jovens, outras mais velhas. Algumas gordas, outras magras.
Peles claras e escuras, cabelos compridos, curtos, presos, tingidos,
raspados na lateral. Tatuagens com nomes de entes queridos, corações,
estrelas e pássaros que renascem das cinzas. Quando a vistoria
acabou, nós fomos embora. Elas ficaram.
PARANÁ
O sistema carcerário brasileiro é um objeto de estudo inesgotável.
De qualquer ângulo que se olhe, haverá problema, dificuldade
e omissão de responsabilidades do Estado, nas coisas grandes e nas
coisas pequenas. A superlotação, a ausência de oferta de estudo e formação
profissional e o descaso com as demandas da massa carcerária
são parte do cotidiano das pelo menos 812 mil pessoas privadas de
liberdade no país, em regime aberto ou semiaberto, segundo estimativa
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Em relatório mundial do ano de 2019, a organização internacional
não governamental Human Rights Watch aponta que 85%
da população carcerária do país não tem acesso a oportunidades de
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