Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 16
Na conversa com as líderes de galeria, ficamos sabendo do que
estava ruim, o que havia piorado ainda mais e escutamos algumas de
suas demandas particulares. Foi a primeira vez que eu escutei que
um grupo de elite chamado SOE (Serviço de Operações Especiais),
do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen PR), entrava com
frequência nas penitenciárias para fazer “revista geral”. Que, sem sofrer
consequência alguma, os agentes desse grupo espirram spray de
pimenta nos rostos de internos e internas, disparam tiros de borracha
ou mandam que as mulheres da PFP tirem as roupas e se amontoem
todas em um canto. Só naquela semana, haviam entrado duas
vezes. Também foi a primeira vez que ouvi que a nova diretoria da
unidade não faz questão de se comunicar com as detentas, que elas
estão sem o atendimento de uma assistente social, que as cartas dos
familiares nunca chegam e que as agentes misturam as comidas trazidas
pelas visitas até que se tornem massas disformes e irreconhecíveis,
em busca de algum contrabando. Para Isabel e Elisabete, todas
essas situações são lutas antigas, problemas de longa data.
Todas elas queriam, com urgência, saber para quando está previsto
o próximo mutirão carcerário. Contaram o caso de uma companheira
de confinamento que aguarda há um ano uma cirurgia de
retirada do útero. Outra, que apanhou de cassetete do SOE — o que
é veementemente negado pela direção — tem tido dores nas costas
sem parar. Ouviram dizer que a administração da penitenciária
tem jogado as cartas enviadas por parentes e amigos às detentas na
estrada em frente ao Complexo Penitenciário do Paraná. São muitas
as dúvidas, aflições e desesperos. Passamos também por alguns
canteiros de trabalho, onde mulheres costuram, cortam e amarram
peças de uniformes de agentes penitenciários, confeccionados ali por
elas. As do setor de finalização das peças pediram para que as fotografássemos
ali, em frente ao fruto de seu trabalho. Depois que elas
se juntaram, meio uma do lado da outra, meio se abraçando, tirei a
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