Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 15

Quando entramos na sala, todas elas nos receberam com efusivos abraços e sorrisos e se apressaram a nos comunicar seus perrengues e necessidades. Na verdade, não a mim, que estava ali só para observar. Estive na Penitenciária Feminina do Paraná (PFP) para acompanhar as advogadas Isabel Kugler Mendes e Elisabete Subtil de Oliveira em uma de suas visitas periódicas ao local. Isabel é presidente do Conselho da Comunidade e, Elisabete, coordenadora administrativa. O Conselho é um órgão da execução penal que, entre outras atribuições, realiza vistorias em unidades prisionais e de detenção, às quais tem acesso irrestrito. Nas vistorias, conversam com as pessoas privadas de liberdade no pátio, nas galerias ou onde quer que seja, para ouvir suas demandas e verificar se seus direitos fundamentais estão sendo respeitados. Muitas vezes, esses direitos estão sendo solenemente ignorados ao mesmo tempo em que os diretores das unidades abrem sorridentes a porta para as duas advogadas e anunciam quais inovações implantaram para melhorar a vida no presídio. Voltemos às mulheres. Passado o momento dos cumprimentos e os instantes de constrangimento enquanto as agentes tiravam as algemas de cada uma das detentas, sentamos em uma roda, formada por cadeiras de plástico. Estavam ali as líderes de galerias, escolhidas pelas demais para serem suas porta-vozes e representantes no diálogo com a diretoria, o Conselho da Comunidade e em outras situações em que ele for requerido. O ideal, me contou Isabel Kugler Mendes, é que as duas consigam entrar se não nas galerias em si, ao menos no pátio, no momento em que as internas estão ao ar livre. Como naquele dia, nem sempre os responsáveis pelas unidades vistoriadas pelo Conselho — 10 penitenciárias e todas as delegacias de Polícia Civil de Curitiba — demonstram entusiasmo com a ideia, e por vezes a política das advogadas é realizar a vistoria nos termos propostos pela diretoria: questão de manter boas relações. 15 | LEVANTE