bagunça. Por conta disso, em 1850 o Bispo Romualdo proibiu esse ato e orientou as pessoas para que fizessem todo o ritual numa perspectiva penitencial, “mas a coisa não foi resolvida, então em 1889 a lavagem da igreja foi proibida por alguns anos”, relatou o cônego Edson.
Janela (tribuna) no andar superior do santuário
No final da década de 40, surgiu a dimensão profana, após a festa religiosa entrava em cena as bebedeiras, carroças e cavalos, que a partir daquele período começaram a fazer parte da Lavagem do Bonfim. Na época, esses atos ganharam uma conotação pagã, então em 1949 foi feito um cordão de isolamento nas escadarias para impedir o acesso das pessoas.
Existe ainda uma terceira versão, na qual as mães de santo realizavam rituais como cumprimento de uma devoção, mas não existem registros de quando começou, “normalmente esses acontecimentos não são registrados pois eles surgem da espontaneidade das pessoas, sem nenhum parâmetro oficial, essas iniciativas ganham uma proporção e terminam virando tradição”, explicou o Cônego Edson.
Para entender melhor essa diferenças de narrativas sobre o surgimento da lavagem do Bonfim, o Ler Agora entrevistou o historiador Sávio Queiroz, “Uma narrativa não exclui a outra, há diversos registros históricos sobre a lavagem, mas a devoção se iniciou em Setúbal, Portugal e veio para o Brasil em 1750, quando a igreja ainda não existia, a imagem do senhor do Bonfim ficava na Penha”. A imagem foi trazida de Setúbal pelo Capitão Teodósio, “As primeiras procissões eram feitas por mar, tinha um porto atrás do Bonfim”, completou.
Segundo o historiador, Teodósio também foi responsável por fundar o culto ao senhor do Bonfim e a irmandade “Devoção do Senhor Bom Jesus do Bonfim”. Sua empreitada ganhou apoio da população devota, dessa forma, aproximadamente em 1750 foi criada a associação de mesmo nome da irmandade.
A primeira capela do Senhor do Bonfim
Diferentemente da igreja do Bonfim, no Brasil, a Capela do Senhor do Bonfim, em Setúbal, construída no século XVII, é pequena e não goza da mesma imponência, quem vê por fora não imagina que dali saiu a imagem que representa toda uma manifestação cultural para o povo baiano.
Seja como for, certamente muitas histórias, pedidos e promessas já passaram e foram feitos durante as lavagens do Bonfim, na esperança de um milagre ou em agradecimento por alguma “graça” divina, assim como fez a primeira pessoa a lavar as escadarias do Bonfim, o soldado português.
São aproximadamente 280 anos de rituais, numa festa de sincretismo religioso na qual participam aproximadamente 9 gerações de baianos e soteropolitanos. Mas, apesar das histórias e da parte católica da lavagem ocupar boa parte do imaginário popular, existe um aspecto menos visto e abordado, o das religiões africanas.
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