CRÍTICA
Português
PESSOANAUTA : uma viagem original
Por Nuno Guerreiro , 12 .º A3
A peça de teatro “ Pessoanauta ” apresentada pela ATE – Produções , no Auditório da Escola Secundária Dr . Jorge Augusto Correia , no dia 2 de fevereiro , foi uma forma interessante e divertida de abordar a obra de Fernando Pessoa e dos seus heterónimos .
O início da peça foi intrigante e original , com uma personagem vestida de piloto de avião pronta para levar os alunos e professores presentes a “ viajar ” pela obra de Pessoa .
A primeira paragem foi em Alberto Caeiro , primeiro heterónimo a ser criado por Pessoa . Apresentando-se com roupas mais rudimentares e uma bengala , representando um pastor ( Caeiro viveu pobremente na quinta de sua tia ), a personagem falou de modo mais demorado , recitando alguns poemas que exprimem a beleza da natureza e a insignificância do pensamento nas nossas vidas .
A próxima paragem foi em Ricardo Reis , que , vestido de médico ( alusão à sua formação académica ), pediu a um membro do público que fosse realizar uma “ consulta ”, prosseguindo depois com a declamação de alguns excertos de poemas deste poeta . A performance do ator foi muito bem conseguida , transmitindo , a meu ver de forma bastante eficaz , emoções consentâneas com o tema dos poemas , neste caso , a calma e a tranquilidade com que devemos viver a vida sem nos apegarmos a nada . De seguida , visitámos Álvaro de Campos , heterónimo nascido em Tavira Página 16
.
Desta vez , a personagem apresentou-se com uma simples t-shirt na qual se podia ler “ Confiem em mim , sou engenheiro ”, uma clara referência aos seus estudos em engenharia que , na fase sensacionista , não se cansava de elogiar as máquinas modernas . Pessoalmente , acho que este foi o melhor heterónimo interpretado pelo ator , que , ao recitar a “ Ode Triunfal ”, exprimiu com tal energia e intensidade as emoções apresentadas no poema que se sentia no ar a eletrizante paixão de Álvaro de Campos .
Passámos ainda por Fernando Pessoa ortónimo , mais especificamente pela sua obra Mensagem , a única publicada em vida . Vestido com uma manta aos ombros , o ator recitou com vivacidade alguns dos poemas que achou mais relevantes da referida obra , nomeadamente “ D . Dinis ”, “ O Infante ” e “ Nevoeiro ”, um poema para cada uma das partes da obra ( 1 ª Brasão ; 2 ª Mar Português ; 3 ª O Encoberto ).
Seguidamente , foi feita nova paragem em Fernando Pessoa ortónimo - poesia lírica . O ator , Alexandre Sá , escolheu vestir-se de uma forma mais formal e interpretou Pessoa de uma forma mais brincalhona , rodopiando , sorrindo e até declamando em cima de uma cadeira .
A viagem terminou com as cartas de amor que Pessoa escreveu a Ofélia , o que considero um bom acréscimo à peça , visto que mostra uma versão mais vulnerável e sentimentalista de Pessoa .
Em conclusão , desfrutei muito da peça , pois foi um modo diferente e divertido de consolidar a matéria lecionada na disciplina de Português . Relativamente ao ator , considero que desempenhou os diferentes papéis de forma criativa , expressiva e envolvente , fazendo passar para o público a mensagem que Fernando Pessoa ( ortónimo e heterónimo ) escondeu em cada um dos poemas apresentados . Por esse motivo , gostaria de ter a oportunidade de , futuramente , assistir a outras peças do mesmo .