Jornal ECOESTUDANTIL, maio 2016 N.º 27, maio 2016 | Page 20
CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
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Numa altura em que a depressão na adolescência aumenta exponencialmente
a cada dia que passa é imperativo que as Marianas desta vida sintam que
os seus sentimentos são válidos, que a ajuda esteja disponível e que as
situações não sejam diminuídas aos olhos de terceiros.
(Continuação da página 15)
nisso inúmeras vezes. Sempre
conseguira enfrentar todos os
problemas que tropeçavam ao
pé de si, como é que isto tinha
acontecido? Precisava de respostas. Continuou a ouvir. No
final entendeu. E tudo batia
certo.
O seus sintomas e o que
contara (a custo) à pessoa
que a ouvira, nomeadamente
a sua falta de apetite, a irritabilidade, a falta de vontade de
fazer o que antes tanto lhe
agradava e a ansiedade excessiva em relação a tarefas
básicas do quotidiano. Soube
também que não se tratava de
um estado melancólico passageiro como pensara outrora,
visto que o que sentia se prolongava há meses; mas, o que
tirou de mais importante daquela consulta foi o facto de
ter entendido que a depressão
se tratava de uma doença do
foro psicológico e que, portanto, deveria ser tratada como
tal e não como um "capricho"
de pessoas indolentes e vazias; ou seja, não havia nada de
errado consigo, a culpa não
era sua, não "sentia" de mais,
aliás, tinha todo o direito de
sentir o que quisesse.
Pediu uma explicação
lógica: "Porquê ela?" A senhora, de caracóis
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cor de mel ex-
plicou,
pacientemente.
Aprendeu que, apesar de
ainda haver muito para se estudar acerca das origens de
uma depressão, pensava-se
que esta envolvia alterações
nas zonas do cérebro que
controlam o humor. No entanto, a hipótese de existirem várias localizações específicas
no cérebro humano onde este
tipo de "anomalias" podiam
ocorrer era também objeto de
estudo; outra hipótese defendida era a possibilidade da
existência de irregularidades
nas reações químicas no interior dos neurónios que, por
conseguinte, acabariam por
afetar o funcionamento normal
do cérebro na sua generalidade; determinadas alterações
hormonais podiam também
desempenhar um papel relevante na consolidação da doença; e, por fim, outros fatores
de ordem genética, sendo que
existiam pessoas com mais
propensão para desenvolver a
doença que outras. Um epi-
sódio de depressão podia
ocorrer devido a uma situação
traumática na vida do paciente, no entanto, em muitos casos não existia uma causa
objetiva que justificasse a condição.
Mariana absorveu a informação que lhe fora concedida, sentindo-se mais aliviada
por ter obtido respostas objetivas acerca do seu tsunami de
estimação. Combinou lá voltar
mais vezes (a terapia era essencial se queria melhorar.)
Sabia que não iria ser fácil,
que a chuva miudinha iria continuar a cair, mas estava pronta. Talvez um dia, se continuasse a correr ainda se apanhasse, ali, no cruzamento
entre a sua verdade e o seu
propósito. Talvez.
Artigo orientado pela professora de
Psicologia, Edite Azevedo