HISTÓRIA
Destruição de um obus, 1925 Um dos sete quadros que Adriano Sousa Lopes( 1879-1944) realizou para o Museu Militar, entre1920 / 30, sobre a participação portuguesa na Grande Guerra
A Rendição( pormenor), terminada em 1923. É uma obra chave, que faz a síntese do pintor em França, confrontado com a dura realidade que o CEP vivia no sector português. Não há aqui nenhum feito glorioso que inicialmente planeara registar, mas apenas o quotidiano trágico destes soldados camponeses, que caminham exaustos e curvados sob o peso das mochilas e dos mantimentos. tamente adequados aos serviços de propaganda do Ministério da Guerra. O pintor comprometia-se a organizar um álbum com retratos de militares e de episódios do Exército em campanha, e a realizar uma série de pinturas inspiradas nos feitos mais gloriosos do CEP, tendo o Estado no futuro direito de opção na compra.
Após a sua nomeação, parte rapidamente para França, onde chega em finais de setembro.
A realidade da frente portuguesa era muito diferente do que imaginara. O quartel-general em Saint- Venant estava informado da sua chegada, mas não lhe dava as mínimas condições para desenvolver o seu plano. Nos primeiros meses, consegue reunir alguns apontamentos paisagísticos e da instrução militar. Mas era preciso ir para a frente, ver aqueles soldados em ação no terreno.
André Brun( 1881-1926), conhecido escritor humorista, encontrou nesses dias o pintor numa aldeia da retaguarda, e registou a sua impressão:“ Vivia meio esquecido e semiabandonado. Quando tanto inútil tinha um automóvel para passear a felpa dos sobretudos ingleses, Sousa Lopes tinha que esperar que um dia uma viatura menos carregada o pudesse transportar ", escreve no seu admirável relato A Malta das Trincheiras( 1919), " Quando o vi em Dezembro do ano passado, não excedera ainda a linha das escolas e o seu álbum de apontamentos apenas continha esboços sem maior interesse para ele nem para a sua obra."
Em janeiro de 1918, o artista decide arriscar-se diretamente nos sectores da frente, pedindo hospedagem por uns dias, aos comandantes que defendiam as trincheiras da primeira linha. A decisão surte efeito imediato.
Após o Armistício, Sousa Lopes é agraciado com o grau de cavaleiro de Santiago de
Página 18 Espada, juntamente com o fotógrafo oficial do CEP, Arnaldo Garcez( 1885-1964). Em 1919, começa a abrir uma série de gravuras a água-forte sobre a experiência de guerra, apresentando algumas no Salão de Paris desse ano.
O conjunto de águas – fortes e pinturas sobre a participação portuguesa na guerra formam um con- junto sem igual na arte portuguesa de novecentos, que no seu tempo suscitou grande admiração. António Ferro, vendo a exposição de 1927, escreveu que, na sombra da trincheira, o pintor descobrira " a lama e as estrelas ", considerando-o decididamente um dos maiores pintores da guerra.