HISTÓRIA
Tradições natalícias
Por Tomás Bravo, 11.º B
H
oje, os presépios do
Algarve são conhecidos e admirados por todo o país, à semelhança
dos madeirenses ou dos de Estremoz. Mas, para perceber ainda
melhor as suas origens, é necessário recuar às origens do Natal.
Só a partir do séc. XII, e através de São Bernardo, que incentiva
a “devoção ao menino” pelo povo,
o Natal começa a ser celebrado
enquanto “festa popular”, uma vez
que até aí apenas era comemorado
como festa litúrgica do nascimento
de Jesus. Anos mais tarde, aliada a
esta “ampliação” da festa natalícia,
vai nascer a tradição de se
“montar” o presépio. A representação do nascimento de Jesus junto
da Virgem e de São José num estábulo ou numa gruta vai espalharse, mas apenas nas casas mais ricas,
nas igrejas e nos mosteiros. Em
Portugal, só por volta dos séculos
XV e XVI é que o “presépio”
começa a ser “armado”.
Aqui no Algarve, o presépio
mais típico talvez seja dos mais
antigos de todo o país, devido às
suas características que remontam
à época medieval. O menino Jesus
é representado num trono em
escadinhas, o que realça a sua
importância e o seu poder, pois, de
facto, era ele o redentor e o salvador para todos os que nele tinham
forte devoção. Em baixo, nos
degraus do seu trono, eram colocados os produtos de sustento dos
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algarvios, dos quais chegam até
hoje as laranjinhas, produto da
época, e as searinhas, que representavam a primeira seara nascida nos
campos e que depois de crescer se
ia tornar no trigo, pilar fundamental da dieta.
Outro tipo de presépio comum,
e aquele que mais se encontra no
Natal dos portugueses, é um presépio de inúmeras figuras de barro
dispostas entre musgo, pedrinhas e
areia que querem representar
Belém, lugar onde Cristo nasceu.
Porém, essa representação de
Belém nem sempre se tornou a
mais real, pois foi-se-lhe acrescentando um pouco do dia-a-dia quotidiano das aldeias portuguesas,
inserindo-lhe figuras como as lavadeiras, o fogueteiro, os lavradores,
ranchos folclóricos, bandas musicais e até procissões, como se vê
nos presépios dos Açores e da
Madeira. Assim, a tradição de
montar o presépio foi crescendo
até se tornar naquela que é hoje.
Aliada à tradição do presépio,
há também outras tradições, nas
diferentes regiões do país. Os hábitos alimentares da ceia de Natal
variam de região para região. Aqui
na zona de Tavira, os mais populares doces da ceia de natal são as
filhós com mel, as empanadilhas
de batata-doce e os bolinhóis, que,
segundo alguns testemunhos orais,
“eram mais os doces do dia de
Reis”, enquanto no dia e véspera
de Natal havia a tradição de se
comerem outros doces, como o
bolo mimoso, o pudim de mel ou
os Dom Rodrigos. Hoje, é imprescindível na mesa de natal de qualquer português o bolo-rei e as
broas (“castelares”), o resto vem
por acréscimo dos hábitos e tradições da região. Para a zona da serra, existe também o hábito de nesta
altura se confecionarem as
“popias” fritas ou no forno, com
açúcar ou calda de mel, ou ainda as
filhós de forma ou sonhos a que
chamamos “fritos de Natal”. Alia-
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dos a um ciclo das festas de inverno, iniciados com o dia de todos
os santos (1 de novembro), estes
doces vão ser os que acompanham
as “festas”, nomeadamente Natal,
Ano Novo e Dia de Reis, estando
também presentes em outras ocasiões, como as matanças do porco
ou as festas dos padroeiros (por
exemplo, Festa de Santa Catarina e
São Luís - 24 de novembro – na
freguesia do mesmo nome, e Festa
de Santo Estevão – 26 de dezembro – em Cachopo).
Para terminar, gostava de lembrar a tradição algarvia de se cantar
as “charolas” para saudar o “ano
bom”. Entre o dia de Ano Novo e
o Dia de Reis, grupos andam pelas
ruas a cantar e a tocar. A tradição
dizia que quem estava em casa
dava sempre “alguma coisa” para o
pessoal das charolas que andava de
um lado para o outro a cantarolar.
Mais uma vez, havia uma mesa de
doces, fritos, pão e enchidos para
oferecer a quem cantava as janeiras.
Todas estas são tradições que
fazem parte do espírito da dieta
mediterrânica, aliado ao convívio e
à época do ano em que se inserem,
que todos nós temos a obrigação
de preservar!
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