Jornal do Clube de Engenharia Junho de 2017 | Page 4

www.clubedeengenharia.org.br ENERGIA Futuro incerto para a Eletrobras Em momento de desvalorização na Bolsa de Valores, ativos da Eletrobras são colocados à venda e programas de demissão voluntária buscam diminuir o tamanho da maior empresa do setor no país. Por trás das decisões de governo, o embate entre a lógica de mercado e a lógica da estratégia nacional em busca da soberania Programas de demissões voluntárias, abertura de capital e, finalmente, a venda de ativos e a privatização. O desmonte da Eletrobras está em curso, sob a pressão contrária de sindicatos e entidades da sociedade civil preocupadas com a soberania do país. Fundamental para o desenvolvimento, a universalização da distribuição de energia a preços módicos está ameaçada pela descaracterização da maior empresa estatal do setor, a Eletrobras. de ativos prevê a venda de outras distribuidoras: serão pelo menos mais sete, só em 2017, entre elas a Cepisa, no Piauí; Ceal, de Alagoas; Eletrobras Amazonas; Ceron, em Rondônia; Eletroacre, no Acre; e Bovesa, de Roraima. Mais ainda, a participação da Eletrobras em outras empresas também deverá ser colocada à venda. Fundamental para o Em novembro de 2016, o recém empossado governo Temer levou a cabo o leilão da CELG, que pertencia à Eletrobras (51%) e ao Governo de Goiás (49%). A compradora de uma das 10 maiores distribuidoras brasileiras foi a empresa italiana Enel, que já atua no país na distribuição de energia elétrica através da Enel Distribuição Rio – antiga Ampla – e Enel Distribuição Ceará – antiga Coelce. desenvolvimento, a O programa de privatização de subsidiárias da Eletrobras e venda do setor. universalização da distribuição de energia a preços módicos está ameaçada pela descaracterização da maior empresa estatal Trabalhadores do setor elétrico protestam em frente ao palácio do Planalto em Brasília 4 A Eletrobras é hoje responsável pela distribuição plena no Acre, Alagoas, Amazonas, Piauí, Rondônia e Roraima e detém participação majoritária em distribuidoras em outros estados. A empresa também participa de projetos binacionais com Uruguai, Paraguai e Bolívia e é dona de metade da Itaipu Binacional, referência mundial de geração hidrelétrica. Segundo Artur Obino, diretor técnico do Clube de Engenharia e ex-assessor da diretoria financeira da Eletrobras, no final de maio foi dado início a mais um Programa de Demissão Voluntária na empresa. “O objetivo é baixar de 24 mil funcionários para 17 mil. A autonomia das regionais também sofre mudanças. Todos os funcionários das 17 empresas do grupo terão que ser inscritos junto à holding”, relatou. Obino destaca, ainda, que embora o governo tenha declarado que apenas a distribuição seria impactada, a prática aponta o contrário. Em maio a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) promoveu um leilão de transmissão, com 31 ativos arrematados. Foram 7.068 quilômetros de linhas de transmissão vendidos nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Além da venda de ativos e subsidiárias, a Eletrobras não participará dos leilões para a expansão do sistema elétrico brasileiro. “As Sociedades de Propósitos Especiais (SPEs) que construíram Santo Antônio e Girau, além de centenas de linhas de transmissão, estão à venda em um momento particularmente ruim, de baixa das ações da Eletrobras. E quem tem dinheiro hoje para comprar as SPEs são os chineses, que já são associados de 60% das linhas de transmissão, uma participação que deve aumentar com os novos leilões”, aponta o diretor.