novembro / dezembro de 2020 e janeiro de 2021 soberania
“ Nós temos que ter a cidadania em prontidão , a cidadania defendendo dois grandes projetos imediatos : a vacinação da população brasileira de forma organizada , não discriminatória , acessível a todos , e a cidadania , mostrando aos representantes no Congresso Nacional que nós não estamos pacificamente aceitando que reformas regressivas possam ser apresentadas como uma bandeira de futuro . Essas são as bandeiras do retrocesso , da miséria , do neocolonialismo , e do abuso de autoridade ”.
A cidadania brasileira precisa entrar de prontidão
Pandemia escancara as desigualdades
Adhemar Bahadian entende que a pandemia de Covid-19 foi um acidente de extrema gravidade que também colocou contra a parede o projeto de desenvolvimento proposto pela Emenda do teto dos gastos . “ Como todos sabemos , a pandemia escancarou de uma maneira absurda a desigualdade social brasileira que foi germinada já com algumas medidas anteriores , com as reduções dos investimentos públicos em saúde e educação ”, analisa .
“ Para a sociedade , ficou absolutamente evidente que o caminho econômico é um caminho completamente diferente daquele que foi proposto pelo corte de gasto . É o investimento público ”, avalia o diplomata , citando o impacto do Auxílio Emergencial na economia . “ Não se pode negar que esse investimento teve um impacto macroeconômico extremamente relevante . A indústria brasileira subiu nos seus indicadores . O dilema agora é o que nós vamos fazer a partir de dezembro ”, questiona ele , citando as discussões existentes sobre uma possível reestruturação do programa Bolsa Família .
De fato , lembra Bahadian , o investimento público com foco no bem-estar social está atualmente no centro das discussões sobre o futuro pós-pandemia , embora no Brasil o governo federal insista na agenda de reformas neoliberais . “ Hoje , se você olhar para o espectro dos economistas que podem ser chamados de ortodoxos ou heterodoxos , você vai encontrar — claro que com várias diferenças — uma preocupação evidente com o social ”, aponta ele , citando o exemplo do próprio Fundo Monetário Internacional ( FMI ).
“ Nós chegamos sempre à conclusão de que essas políticas de austeridade fiscal , tal como estão sendo implementadas , beneficiam a uma parcela mínima de uma população altamente enriquecida . No caso brasileiro isso é totalmente inaceitável ”, critica .
Pontualmente , Adhemar Bahadian trata em suas reflexões e propostas do Diagnóstico , do Histórico e do Brasil pós pandemia . Percorre o momento atual resgatando o histórico do retrocesso de políticas sociais e econômicas , como a PEC de Gastos ; a política externa brasileira ; a queda da renda nacional e as reformas propostas . E conclui : o Brasil de hoje é o de ontem .
Como exemplo , cita necessariamente a política externa brasileira que vem deixando para trás uma política centrada nos dispositivos constitucionais de 1988 para adotar um posicionamento desorganizado , que colocou o país em armadilhas diplomáticas com nossos principais aliados e parceiros comerciais . “ Nenhuma iniciativa relevante foi tomada no âmbito do desenvolvimento econômico , e o alinhamento submisso aos EUA não trouxe contrapartidas ”, afirma .
Para Bahadian , é inquestionável que o novo direcionamento tem ligações diretas com a Emenda Constitucional do Teto dos Gastos , aprovada em 2016 . Isso porque , apesar da propaganda de ser um mero ajuste fiscal , na prática a emenda significou o rompimento com os direitos sociais da Constituição de 1988 , arrastando o Brasil novamente para uma posição neoliberal e submissa .
Sem soberania interna , que significaria a promoção dos direitos sociais , não é possível uma posição soberana junto aos demais países . Com a pandemia , a insustentabilidade desse modelo ficou explícita : não só as desigualdades foram escancaradas , mas também a necessidade de investimento público tem sido apontada por economistas de todo o espectro político .
Bahadian defende que nossa principal urgência atualmente é a vacinação ampla contra a Covid-19 . Ele defende que , em segundo lugar , seja colocada à mesa uma agenda econômica com foco no social , abandonando de vez as propostas de reformas neoliberais e privatistas .
Adhemar Bahadian é diplomata aposentado . Foi embaixador do Brasil em Roma e atualmente escreve aos domingos no Jornal do Brasil .
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