Jornal do Clube de Engenharia 610 (Janeiro de 2020) | Page 3
janeiro DE 2020
INDÚSTRIA 4.0
Com reconhecimento internacional, Brasil
é destaque em experiências de inovação
Produto de impacto social
A equipe Tupã é formada por cinco
alunos do Centro Federal de Edu-
cação Tecnológica Celso Suckow da
Fonseca (CEFET/RJ) e um da Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Segundo Breno Ferreira,
estudante de Engenharia Eletrônica
no CEFET, o foco da competição era
gerar um produto de impacto social.
Concorrendo com equipes que desen-
volveram tecnologias de filtragem de
água, rastreio de animais marinhos e
outras, a Tupã criou dois dispositivos
que poderiam substituir as bengalas de
deficientes visuais. Um deles é o boné,
que identifica obstáculos na altura da
cabeça e emite vibrações para alertar o
usuário. O outro é um “pointer”, uma
espécie de bastão, levado na mão, tam-
bém dotado de sensores que emitem
vibrações ao detectar objetos, buracos,
declives no chão, etc.
Em fevereiro de 2019, a competição
Invent for the Planet (Invente pelo
Planeta), organizada pela universidade
norte-americana Texas A&M
University, envolveu mais de 600
estudantes de graduação e pós-graduação,
de 25 universidades e 16 países, com o
objetivo de propor, em 48 horas, soluções
para os desafios atuais do planeta. Na
competição final, em abril, a equipe
brasileira Tupã venceu a competição,
propondo uma inovação totalmente
integrada à Revolução Industrial 4.0.
Essa experiência foi um dos temas da
palestra “Revolução Industrial 4.0,
Inovação e Networking”. Além dos
membros da equipe Tupã, participaram
o profissional de design Rafael Mello
e o engenheiro Cesar Loroza, chefe da
Divisão Técnica de Manutenção (DMA)
do Clube de Engenharia.
Ecolocalizadores criados pela Equipe Tupã
Membros da Equipe Tupã, da esquerda para a direita: Caio Barboza, Victor Hugo Benicio, Giovanni
Seiji, Breno Ferreira, Luã Costa e Felipe Macedo.
A inovação foi considerada de
grande aplicabilidade em um mundo
com muitos deficientes visuais em
diferentes graus, com soluções já ul-
trapassadas, limitadas ou caras. “São
cerca de 40 milhões de pessoas cegas
no mundo. Nossa ideia foi desen-
volver um dispositivo que ajudasse
na mobilidade dessas pessoas através
da eletrônica e da tecnologia, tendo
como requisitos principais detectar
proximidade com qualquer obstá-
culo ou pessoa, sem comprometer
outros sentidos do deficiente, além
de ser discreto e barato”, explicou
Breno Ferreira.
O preço é, de fato, outro diferencial da
nova tecnologia: o sensor teria o valor
de apenas R$ 100,00. A informação
trouxe à tona importante depoimento
sobre a participação no concurso. “A
engenharia não está atrelada apenas
à área técnica, mas também à área
social. Esse é o seu principal papel:
servir à sociedade de forma eficiente.
Não é só lucro e maquinário. Ter um
impacto social é fundamental”, defen-
deu Breno Ferreira.
Aliança universidade-
empresa na pesquisa
Uma segunda experiência no exterior
foi apresentada por Rafael Mello,
designer especializado em Design
Thinking, Design Estratégico e Ino-
vação. Em seu doutorado na Brunel
University London, no Reino Unido,
Rafael e outros sete pesquisadores
desenvolveram um projeto, finan-
ciado pela empresa Samsung, que
abordava a universidade como fonte
de consultoria para o desenvolvi-
mento estratégico de futuros eletro-
domésticos para o mercado europeu,
principalmente geladeiras, aspirado-
res de pó e lava louças. A equipe se
constituía de professores e estudantes
de mestrado e doutorado de diversos
países, incluindo o Brasil, Taiwan,
Tailândia e Quênia. O projeto durou
cinco meses e foi o primeiro passo
para o desenvolvimento posterior dos
produtos.
Para Rafael Mello, um dos aspectos
mais enriquecedores da experiência
foi exatamente a pluralidade dos
participantes, uma vez que cada um
levava consigo diferentes perspecti-
vas e olhares para os problemas que
deveriam solucionar nos numerosos
brainstorms que aconteciam nos en-
contros. Foi um fator que enriqueceu
o desenvolvimento do projeto: entre
eles havia especialistas e usuários dos
futuros produtos. “É nesse momento
que acontece o encontro de pessoas
que têm problemas com pessoas que
podem trazer soluções”, afirmou.
Rafael Mello ressaltou, ainda, o
respeito ao tempo universitário no
desenvolvimento de pesquisa, algo
incomum no ambiente empresarial.
“A pressa tem relação com o con-
corrente da empresa contratante,
que está sempre fazendo algo para
ser lançado. Nossa abordagem, no
entanto, era acadêmica, onde o tem-
po passa mais devagar com foco na
geração de conhecimento da melhor
forma possível”, comemorou.
O evento foi promovido pela Dire-
toria de Atividades Técnicas (DAT)
e Divisão Técnica de Manutenção
(DMA), e teve o apoio das divisões
técnicas de Exercício Profissional
(DEP) e Formação do Engenheiro
(DFE).
Leia mais: http://bit.ly/dte-inovacao
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