Jornal do Clube de Engenharia 610 (Janeiro de 2020) | Page 2
Editorial
EXPEDIEnTE
As graves consequências do Estado Mínimo
No Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça,
o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou a
perspectiva de adesão do Brasil ao Acordo de Com-
pras Governamentais, patrocinado pela Organiza-
ção Mundial do Comércio (OMC). Na prática, isso
significa a previsão do Brasil extinguir a atual política
brasileira de compras governamentais na área de bens
e serviços e obras de construção civil e liberar nosso
mercado para as empresas estrangeiras.
A competição com o mercado internacional nunca
foi problema para nossas empresas. Ao contrário, nas
últimas décadas nossa engenharia esteve presente em
mais de 40 países, inclusive nos Estados Unidos e nos
principais países europeus. Concorrências internacio-
nais existem no Brasil desde a década de 80. O que
é inaceitável é a decisão de atrelar os serviços e obras
de engenharia à concessão de financiamento. Não é a
concorrência estrangeira, e sim o modelo de financia-
mento a ser implementado, que deixará as empresas
brasileiras em uma posição de dependência absoluta
dos investidores internacionais.
O Estado, que hoje contrata, será substituído pelo
investidor internacional, que traz com ele, nos serviços
de engenharia, o projetista, a construtora e a montadora.
É o fim da política de conteúdo local. Com o índice de
desemprego no setor em torno de 150 mil profissionais
e as principais empresas em regime falimentar ou em
recuperação judicial, a engenharia brasileira pós Lava-
Jato agoniza. Com a dependência ao financiamento
externo deixar-se-á para trás a trajetória vitoriosa que a
colocou na vanguarda da engenharia mundial. É o fim
da engenharia nacional.
A política deliberada de exterminar a nossa inegável
capacidade de competição está expressa nos ataques
sistemáticos ao Banco Nacional de Desenvolvimento
Social (BNDES). Importante instrumento de financia-
mento de obras e serviços de engenharia nos últimos 60
anos, o BNDES está sendo destruído. Um crime que
se insere na política do Estado Mínimo. Na contramão
da história, hoje optamos por esperar que investidores
estrangeiros venham solucionar nossos problemas ao
invés de usarmos parte das reservas brasileiras para um
Fundo de Investimento em Infraestrutura, utilizando o
BNDES como instrumento organizador.
Em um cenário no qual o Brasil torna-se incapaz de
exercer sua soberania, as conseqüências vão muito além
do trágico fim da engenharia nacional e do maior banco
de investimentos do país. O atrelamento ao financia-
mento externo também decreta o fim da possibilidade
de retomada de uma política industrial, já que é o
Estado, maior comprador em qualquer economia, que
estimula os setores estratégicos para o desenvolvimento
nacional. Assim fazem os países desenvolvidos. E os
frutos são inquestionáveis: mais empregos, maior renda
e desenvolvimento econômico. São essas as razões que
levam, por exemplo, o governo dos Estados Unidos, por
Lei, a dar preferência aos bens e serviços de seu país.
Para valer, o acordo deverá ser aprovado pelo Congres-
so Nacional. Depende de nossa capacidade de diálogo
com os parlamentares, com a participação direta dos
representantes da indústria nacional, das empresas e
profissionais das engenharias, e da conscientização de
todos os setores da sociedade brasileira, a possibilidade
de impedirmos que o Brasil, que projetávamos como a
Nação Protagonista do século 21, volte aos tempos do
Brasil Colônia.
A Diretoria
PRESIDENTE
Pedro Celestino da Silva Pereira Filho
1º VICE-PRESIDENTE
Sebastião José Martins Soares
2º VICE-PRESIDENTE
Márcio João de Andrade Fortes
DIRETORA DE ATIVIDADES
INSTITUCIONAIS
Maria Glícia da Nóbrega Coutinho
DIRETORES DE ATIVIDADES TÉCNICAS
Artur Obino Neto
João Fernando Guimarães Tourinho
José Eduardo Pessoa de Andrade
Maria Alice Ibañez Duarte
DIRETOR DE ATIVIDADES SOCIAIS
Bernardo Griner
DIRETOR DE ATIVIDADES CULTURAIS
Cesar Drucker
DIRETORES DE ATIVIDADES FINANCEIRAS
Leon Zonenschain
Luiz Oswaldo Norris Aranha
DIRETORIA DE ATIVIDADES
ADMINISTRATIVAS
Leon Zonenschain
Luiz Carneiro de Oliveira
CONSELHO FISCAL
Eliane Hasselmann Camardella Schiavo
Marco Aurélio Lemos Latgé
Denise Baptista Alves
Severino Pereira de Rezende Filho
CONSELHO EDITORIAL
Coordenador: Pedro Celestino
Alcides Lyra Lopes
Ana Lucia Moraes e Souza Miranda
Cláudia do Rosário Vaz Morgado
James Bolivar Luna de Azevedo
Lucas Getirana de Lima
Marcio Patusco Lana Lobo
Margarida Lourenço Castelló
Mariano de Oliveira Moreira
Newton Tadachi Takashina
Tatiana da Silva Ferreira
REDAÇÃO
Editora e jornalista responsável
Tania Coelho - Reg. Prof. 16.903
Textos: Carolina Vaz - Reg. Prof. 0037449/RJ,
Guilherme Alves e
Rodrigo Mariano - Reg. Prof. 32.394/RJ
Editoração: Márcia Azen
Produção: Espalhafato Comunicação
Fotos: Fernando Alvim/Arquivo Clube de Engenharia
Colaboração: Marcia Ony
Impressão: Folha Dirigida
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