Jornal do Clube de Engenharia 610 (Janeiro de 2020) | Page 4
tecnologia
Leilão do 5G é adiado para 2021 enquanto
crescem debates sobre impactos da tecnologia
Desde 2017, quando os padrões
técnicos do 5G, a nova tecnologia
de transmissão de dados
móveis, foram finalizados, a
corrida pelo desenvolvimento
tecnológico ganhou força entre
os países. Atualmente, nações
como os EUA, Coreia do Sul,
Reino Unido e China já têm
antenas em funcionamento,
impulsionando o mercado de
telecomunicações na direção de
uma revolução nas redes móveis.
No Brasil, entretanto, os seguidos
adiamentos nos leilões das faixas
de frequência para o 5G deixam
o país na retaguarda da corrida.
Ao mesmo tempo, preocupações
com a implementação da
tecnologia permanecem.
Entre elas, a possibilidade de
interferência em operações
como previsão e monitoramento
climático, e mesmo os impactos
no uso de energia elétrica,
levantam questões para os países
que ainda não deram início ao
uso comercial da nova geração.
Revolução na transmissão
de dados
Os números impressionam: o 5G é
o maior salto na história das tec-
nologias de transmissão de dados
móveis, chegando a velocidades de
20 Gb/s (gigabits por segundo),
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Pixabay
A expectativa era que o leilão das
faixas de frequência para uso comercial
acontecesse no primeiro semestre de
2020, mas o Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações
anunciou que o 5G deve chegar por
aqui, no mínimo, no final de 2021.
valor 20 vezes maior que o 4G. Uma
mesma antena será capaz de conectar
muito mais dispositivos, permitindo
o florescimento em escala comercial
da chamada Internet das Coisas,
com bilhões de objetos cotidianos
desenvolvidos de forma a se conectar
à Internet para ganhar novas funções.
Além disso, a baixa latência, de até
1 ms (milissegundo), contra 10 ms
do 4G, diminuirá o atraso no tempo
de transmissão de dados, permitindo
fluxos quase instantâneos e melho-
rando significativamente a oferta de
serviços à distância, de ligações por
vídeo a serviços médicos.
Preocupações com
interferências
Enquanto os números prometem
uma revolução, acende-se o sinal
amarelo no uso em larga escala do
5G. Em junho do ano passado, por
exemplo, a Administração Oceânica
e Atmosférica Nacional dos EUA
(NOAA, na sigla em inglês) alertou
que algumas das faixas de frequên-
cia leiloadas para a operação do 5G
no país, como a de 24 Ghz, eram
também usadas no monitoramento
do clima, inclusive na previsão de
furacões. A possibilidade de inter-
ferências, prejudicando a leitura dos
modelos climáticos, tornou-se uma
preocupação no país.
O conselheiro Marcio Patusco Lana
Lobo, Subchefe da Divisão Técnica
Especializada de Ciência E Tec-
nologia (DCTEC) do Clube de
Engenharia, esclarece que a prin-
cipal apreensão do Brasil no que
diz respeito a interferências está
na prestação do 5G na faixa de 3,5
GHz. “Nesta faixa atualmente estão
as transmissões de TV aberta para
parabólicas via satélite, onde existem
cerca de 12 milhões de receptores
que eventualmente poderiam sofrer
interferência. Testes de campo serão
realizados proximamente pelo Cen-
tro de Pesquisa e Desenvolvimento
em Telecomunicações (CPqD),
acompanhados pela Agência Nacio-
nal de Telecomunicações (Anatel),
no sentido de verificar, ao que tudo
indica, a efetiva solução do problema
pela instalação de filtros nos equi-
pamentos de recepção de satélite.
A previsão do leilão do 5G deverá
abranger também as frequências de
700 MHz, 2,3 GHz e 26 GHz”.