Jornal do Clube de Engenharia 603 (Junho de 2019) | Page 6
inovação
Revolução tecnológica expõe conflitos
geopolíticos
O confronto entre a China e
os EUA, ao contrário do que
muitos afirmam, não se dá por
causa de disputas no mercado
de produtos agrícolas, da soja,
ou do iPhone, e sim porque a
China desde 2015 desenvolve
um programa para que em 10
anos os setores estratégicos de
sua economia passem da fase da
fabricação de produtos para a
fase de domínio da tecnologia.
É essa a raiz do conflito EUA e
China. É a predominância dos
EUA que está ameaçada.
No final de 2017, os padrões técnicos
de operação da quinta geração de
tecnologia de dados móveis — a cha-
mada 5G — foram finalizados pelo
consórcio internacional responsável
por padrões móveis de telecomunica-
ções, o 3GPP. A partir daí, empresas
e países começaram a corrida para
desenvolver dispositivos, equipa-
mentos e políticas para usar a nova
tecnologia. No início de junho deste
ano, a China anunciou a liberação de
concessões para que quatro empresas
comecem a operar comercialmente o
5G no país. Outras nações, como os
EUA, Coreia do Sul e Reino Unido,
já têm antenas em funcionamento.
Mas por que essa tecnologia é consi-
derada tão importante?
“Espera-se que o 5G seja a principal
tecnologia para o desenvolvimento
do ecossistema de Internet das Coi-
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Jeferrb/Pixabay
nacionais competem por um mercado
ainda incipiente. Nesse cenário, a
China tem despontado como líder,
não apenas na cadeia de produção de
equipamentos de telecomunicações,
mas também como desenvolvedora.
A chinesa Huawei, maior empre-
sa desse mercado, recentemente se
tornou alvo de um inédito bloqueio
comercial do governo americano,
elevando o tom da chamada guerra
comercial entre os EUA e a China,
em conflito pela liderança mundial e
pelo mercado asiático.
Conectar mais dispositivos a uma mesma antena de transmissão é uma das características do 5G e
requisito para a Internet das Coisas.
sas (IoT) e, consequentemente, da
Indústria 4.0, bem como aplicações
em todos os segmentos da economia
e serviços para a sociedade”, explica
Márcio Girão, conselheiro do Clube
de Engenharia e Diretor de Planeja-
mento e Gestão de Riscos (DPLR)
da Financiadora de Gestão e Pesqui-
sa (Finep).
O fato é que as empresas prometem
uma revolução nas telecomunicações
com a adoção do 5G. Isso porque,
na história das tecnologias de trans-
missão móvel de dados, o 2G foi
pensado para voz, o 3G para dados e
o 4G para grandes fluxos de dados,
como streaming de música e vídeo
da Internet. O 5G, por outro lado,
deve suportar fluxos ainda maiores
de dados, com testes chegando a
downloads de 20 Gb/s, por antena de
transmissão, valor vinte vezes maior
que o conseguido com as antenas de
4G. Outro ponto importante é que
uma mesma antena será capaz de
conectar um número muito maior de
dispositivos ao mesmo tempo, o que
permitirá o florescimento em larga
escala da chamada Internet das Coi-
sas — bilhões de objetos cotidianos
poderão ser desenvolvidos de forma
a se conectar à Internet para trans-
mitir dados e ganhar novas funcio-
nalidades. Outra característica dessa
geração é a baixa latência, de até 1
milissegundo, contra 10 ms do 4G, o
que diminuirá o atraso no tempo de
transmissão de dados de um ponto
a outro, permitindo fluxos quase
instantâneos e melhorando a oferta
de serviços à distância.
Impactos geopolíticos
A adoção do 5G exige preparo das
empresas de telecomunicações e dos
governos. Trata-se de uma corrida
tecnológica, em que empresas multi-
Para Marcio Patusco, subchefe da
Divisão Técnica de Ciência e Tec-
nologia (DCTEC) do Clube de
Engenharia, trata-se de uma disputa
que poderá impactar a adoção mun-
dial do 5G. “A maioria dos grandes
fabricantes na vanguarda do 5G é
chinesa. Caso este conflito se alastre
para outros fabricantes, o impacto
no desenvolvimento do 5G deverá
ser grande. Escassez de produção e
aumento de preços poderão ocorrer,
com diminuição da qualidade pela
redução da competição, implicando
em menor velocidade de implantação
da tecnologia”, explicou ele.
A China tem despontado como
líder, não apenas na cadeia de
produção de equipamentos de
telecomunicações, mas também
como desenvolvedora.