Jornal do Clube de Engenharia 603 (Junho de 2019) | Page 5
Junho DE 2019
debates
“Qual é o efetivo militar na
Amazônia hoje? São 30 mil
homens”, disse Lessa, citando
dados de 2017. “Em 1950, só
tínhamos mil homens”, lembrou.
Para ele, apesar de ser um efetivo
pequeno, esse aumento demons-
tra um crescimento na importân-
cia estratégica dada pelas Forças
Armadas à região. Atualmente,
existem 29 organizações milita-
res na fronteira amazônica, um
patrulhamento que ganhou força
a partir do Programa Calha
Norte, de 1985. Entretanto, as
condições dos pelotões nem
sempre são ideais, sendo comuns
problemas de infraestrutura ade-
quada às condições da floresta.
A defesa da Amazônia enquanto
“território global” é, para Lessa,
uma estratégia geopolítica. “Se
nós não ocuparmos, estaremos
dando chance para que outros
ocupem”, alertou. “Será que
vamos permitir que a Amazônia
se torne um bem público mun-
dial, com gestão coletiva? Esse
modelo já existe, é o modelo
Antártico”, advertiu o palestrante.
“A Amazônia, antes de ser um
patrimônio da humanidade, é pa-
trimônio inquestionável do povo
brasileiro”, finalizou.
Leia mais: http://bit.ly/GeneralLessa
Uma alternativa para o Brasil
As previsões sobre o crescimento do
Produto Interno Bruto brasileiro em
2019 continuam pessimistas. A crise
econômica, que se arrasta desde 2015,
ainda parece longe de ser solucio-
nada, e a ineficiência institucional pa-
ralisa as alternativas que a sociedade
civil aponta como possíveis. Debate
perene no Clube de Engenharia, o
desenvolvimento econômico e social
do Brasil foi tema do encontro da
série “Brasil: nação Protagonista” com
Ciro Gomes. Advogado e professor
universitário, Ciro tem longa trajetó-
ria: foi ministro, governador, prefeito,
deputado estadual e federal. Em fala
contundente, trouxe sugestões para a
retomada do crescimento e da distri-
buição de renda no Brasil.
Soberania
“Sem a celebração de um Projeto Na-
cional de Desenvolvimento, nosso país
está fadado a ser negado enquanto
nação soberana, e a não ter condição
de oferecer à sua gente nenhuma pers-
pectiva de uma vida minimamente
justa e digna, com emprego remune-
rado e salário mínimo decente”, disse
Ciro Gomes, que explicou a impor-
tância de se planejar políticas públicas
ao redor de um Plano Desenvolvi-
mentista estruturado e soberano, longe
do que tem acontecido atualmente no
Brasil. “Projeto supõe planejamento.
Planejamento supõe metas, objetivos,
prazos, supervisão, avaliação, controle”,
disse ele.
A ideia de que o mercado financeiro
será capaz de absorver todas as de-
mandas da sociedade, entregando as
soluções para a economia, foi critica-
da por Ciro: “nada disso será possível
em um ambiente em que o espon-
taneísmo individualista, ou egoísta,
do mercado seja a força dirigente, o
elemento dogmático pouco inteli-
gente e pouco reflexivo, que em nada
consulta nossa realidade, replicando
manuais estrangeiros sem nenhuma
audiência ou consulta àquilo que,
de fato, importa para a vida real do
Brasil”, ponderou.
“É imperativo que se entenda a
necessidade de ser um Projeto Na-
cional, por uma circunstância muito
prática e óbvia, que eles se recusam a
refletir quando a gente critica, e que
é derivada de uma pergunta muito
simples: as condições de empreen-
der, de produzir, de trabalhar, de ter
emprego, de ter impostos, essas con-
dições são globais? É uma resposta
muito contundente: não. As condi-
ções de empreender seguem sendo
dramaticamente nacionais”.
Fortalecer a economia
Para Ciro Gomes é preciso entender
o poder que a economia interna tem
na recuperação do desenvolvimen-
to. “A escala de uma economia é
dada pelo tamanho do seu mercado
interno, que é inegavelmente uma
variável do seu perfil de distribuição
de renda”, explicou ele, lembrando
que o Brasil é um dos países com
pior distribuição de renda do mundo.
Enquanto países centrais apostam no
fortalecimento desse mercado, com
financiamentos a juros baixos ou ne-
gativos, escalas globais de produção
de mercadoria e desenvolvimento de
tecnologia de ponta, o Brasil cami-
nha no sentido contrário.
A dimensão da deterioração do
mercado interno é dada por núme-
ros: “nos últimos três anos, 13 mil
indústrias foram fechadas no Brasil,
220 mil pontos de comércio foram
fechados, e 63 milhões de brasileiros
estão humilhados com o nome no
Federal não podem fugir disso”,
opinou ele. Tal patrulhamento
se torna ainda mais urgente ao
se lembrar que na Amazônia já
atuam facções criminosas, nacio-
nais e internacionais, envolvidas
com o tráfico de drogas e armas.
“Grande parte da cocaína produ-
zida nos países andinos atravessa
as fronteiras rumo ao território
brasileiro, seja para envio pos-
terior à Europa e América do
Norte, seja para distribuição no
mercado nacional brasileiro”,
disse o general.
Ciro Gomes traçou alternativas para uma política
econômica nacional pautada na soberania e na
distribuição de renda
SPC”, reportou Ciro Gomes. “Mais
de 5 milhões de micro e pequenas
empresas estão negativas no Serasa,
indo para a falência. O empresariado
nacional brasileiro está devendo 3 tri-
lhões de reais, e 600 bilhões já estão
atrasados”, disse ele.
Projeto Nacional
- Desenvolver o capital nacional, forta-
lecendo a economia interna. Segundo
Ciro Gomes, trata-se de um esforço
das instituições democráticas que
passa por reforma do sistema tribu-
tário, inclusive como forma de onerar
menos quem recebe menos.
- Coordenação estratégica do Estado,
a fim de ordenar o Projeto Nacional
junto de um empresariado interessa-
do no desenvolvimento do país.
- Investimento sistemático nas pesso-
as, principalmente em educação de
qualidade e em Ciência e Tecnolo-
gia de ponta.
Leia mais: http://bit.ly/PalestraCiro
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