Jornal do Clube de Engenharia 603 (Junho de 2019) | Page 4

debates Brasil: Nação Protagonista 4 Amazônia: desafios para a soberania “A Amazônia é um continente bra- sileiro. São 5 milhões de quilômetros quadrados, 56% do território nacional. Lá se encontram todos os minérios, e a cada dia se encontram mais, por isso a cobiça é grande”. As palavras são do General Luiz Gonzaga Lessa, ex-che- fe do Comando Militar da Amazônia e do Comando Militar do Leste, sediado no Rio de Janeiro, e ex-pre- sidente do Clube Militar, em palestra no Clube de Engenharia intitulada “Amazônia e Soberania Brasileira”. O general Lessa destacou a existência de interesses geopolíticos ao redor da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, afirmando que países como a Alemanha e o Reino Unido já deixaram bem claro, em documen- tos que tratam de suas estratégias militares, a necessidade de garantir recursos naturais indispensáveis ao Com tradição centenária de lutas e embates em defesa da democracia, bem como da concretização de um processo de desenvolvimento econômico, soberano, sustentável e socialmente inclusivo, o Clube de Engenharia acredita no potencial de um Brasil que poderá ser uma das nações protagonistas no contexto internacional neste Século XXI. Por isso, mais uma vez, abre as suas portas para uma série de debates sobre grandes temas nacionais diretamente relacionados ao objetivo da construção da nossa Nação. Embora de natureza política e republicana, o projeto não tem qualquer conotação partidária. Publicamos a seguir os dois últimos eventos da série “Brasil: Nação Protagonista”, com o General Luiz Gonzaga Lessa e o advogado e professor Ciro Gomes. desenvolvimento desses países. Trata- se de um posicionamento que deve alertar o Brasil para a possibilidade de que, em futuro breve, a soberania do país sobre a Amazônia seja, como há tempos se teme, ameaçada. Um exemplo é a fronteira do estado de Amapá com a Guiana Francesa, território ultramarino da França e principal território da União Euro- peia fora da Europa continental. “É território francês. Eu vi o Macron [presidente da França] na semana passada se preocupando com proble- mas amazônicos, porque a Franca é um território amazônico. Já pensa- ram nisso? O problema é o que pode acontecer mais tarde”, explicou ele. Para Lessa, “qualquer que seja o governo, os do passado, do presente ou do futuro, todos tiveram ou terão que abordar quatro pilares ao tratar da Amazônia: ambiental, indígenas, ilíci- tos transnacionais e ONGs”. Segundo o general, cada um desses temas tem implicações para a soberania do país. Questão ambiental O general Luiz Gonzaga Lessa apresentou questões prioritárias para a Amazônia, como as políticas indigenistas, o combate ao crime e a exploração de recursos naturais. Lessa salientou a rica biodiversidade da região, mas principalmente o fato de a Amazônia deter dois terços do potencial hidrelétrico do país. E ape- sar de o Brasil possuir 20% da água doce do planeta — 80% dela na bacia amazônica —, esse recurso natural é distribuído de forma desigual no território. Ele sugeriu, portanto, um olhar mais pragmático sobre o uso dos recursos naturais da região em prol do desenvolvimento nacional. Povos indígenas As políticas indigenistas ainda são alvo de debates, registrou o pales- trante. Ao todo, são quase 500 mil pessoas que vivem em territórios demarcados pelo Estado, os cha- mados Territórios Indígenas, que correspondem a 13% do Brasil — a maior parte na região amazônica. Lessa abordou a dificuldade de man- ter o patrulhamento dos Territórios Indígenas pelas Forças Armadas e a Polícia Federal, uma vez que tratados internacionais, como a Declara- ção da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, de 2007, têm como princípio a não intervenção, a não ser quando justificada ou solicitada. Para ele, é necessário falar em soberania nacional em primeiro lugar, princi- palmente ao se tratar de regiões de fronteira, como o Território Indígena Raposa Serra do Sol, localizado em Roraima, na divisa com Venezuela e Guiana. Fronteiras e combate ao crime A discussão sobre as fronteiras ama- zônicas é, na visão de Lessa, uma das mais relevantes. Somente na Amazô- nia o perímetro de divisas com outros países é de 11 mil quilômetros, com terreno muitas vezes dificultoso, seja pelos grandes rios que fazem a fronteira, seja pela própria densidade da floresta, uma vez que existe um “vazio demográfico” na região como um todo. “É preciso controlar a fron- teira. As Forças Armadas e a Polícia