Jornal do Clube de Engenharia 597 (Dezembro 2018) | Page 10
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Obras geotécnicas: prever riscos
para tomar boas decisões
A Palestra Milton Vargas foi criada
em 2005 como Palestra ABMS, mas
em 2011 teve seu nome modificado
em homenagem a um dos funda-
dores da associação, Milton Vargas,
um dos primeiros acadêmicos de
Mecânica dos Solos no País, falecido
no mesmo ano. O professor Hachich
comentou que foi estudante de Mil-
ton Vargas, seu primeiro professor de
Mecânica dos Solos, que o fez come-
çar a ver sentido em tal estudo. Ele
expressou a honra de ter sido discen-
te do engenheiro que tem seu nome
atrelado a algumas das maiores obras
de infraestrutura do país. “Além de
um brilhante professor, ele era filóso-
fo, ensaísta, cronista. Resumindo, um
homem renascentista do século XX”.
cálculos probabilísticos e tomadas
de decisão, reforçando os conceitos
muitas vezes negligenciados nos cur-
sos de engenharia, como a estatística
bayesiana. Segundo o engenheiro,
para a boa gestão das enormes incer-
tezas geotécnicas e das igualmente
imensas consequências potenciais de
falhas de obras civis, são determinan-
tes três diretrizes: aplicar o método
de observação de Terzaghi, se pos-
sível com a sua extensão bayesiana;
utilizar a Análise de Decisões para
bem ponderar probabilidades e con-
sequências na tomada de decisões; e
considerar variabilidades e definições
de ruína corretas.
Na primeira diretriz, probabilidades
de iniciais são atualizadas com novas
informações, a partir de observações
(amostras, ensaios, instrumentação),
obtendo-se probabilidades aprimo-
radas. Essa atualização bayesiana
permite tanto atualizar o indicador
de segurança de uma obra geotécni-
ca quanto identificar o desvio mais
provável das hipóteses de projeto, no
contexto do método de observação.
Nesse contexto, Hachich enfatizou a
importância de se ter planos de con-
tingência para lidar com eventuais
desvios, e o menor custo esperado
como critério para escolher um
desses planos. Na segunda diretriz,
o palestrante abordou a Análise de
Decisões, referente a riscos geotéc-
nicos, e apresentou o exemplo de
um aterro sanitário que precisava se
tornar mais alto sem comprometer
a segurança de três vizinhanças bem
distintas: - uma rodovia, um núcleo
residencial e uma área interna de
operação do próprio aterro. A equi-
pe responsável pelo estudo calculou
probabilidades de ruína e consequ-
ências e decidiu por construir três
taludes com riscos equivalentes e,
portanto, inclinações médias ligei-
ramente diferentes. Foi uma decisão
mais coerente com o conceito de
minimização de riscos do que a
solução usual de empregar taludes
igualmente inclinados de todos os
lados. Na terceira diretriz, o profes-
sor falou sobre aceitabilidade de ris-
cos: a relação entre a probabilidade
de ruína e o custo de uma eventual
ruína. Ele defendeu que probabili-
dades sejam calculadas com base em
“Segurança, confiabilidade e riscos
em obras geotécnicas” foi o tema
da apresentação de Waldemar Ha-
chich, engenheiro civil, mestre em
Engenharia de Estruturas, doutor
em Engenharia Geotécnica e pro-
fessor da Universidade de São Paulo
(USP), na 14ª edição da Palestra
Milton Vargas, de 2018, da Asso-
ciação Brasileira de Mecânica dos
Solos e Engenharia Geotécnica
(ABMS). Tradicionalmente, a Pa-
lestra Milton Vargas percorre o país,
e dessa vez tinha um percurso de 12
cidades. A penúltima apresentação
de Hachich foi em 5 de dezem-
bro, no Clube de Engenharia, em
exposição promovida pelo Clube,
ABMS-Rio, Diretoria de Atividades
Técnicas (DAT) e Divisão Técnica
de Geotecnia (DTG).
Segurança em obras
geotécnicas
Hachich abordou a segurança em
obras geotécnicas a partir da análise
de riscos, aplicação de métodos e
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Professor Waldemar Hachich na 14ª edição da Palestra Milton Vargas 2018.
definições corretas tanto do modo
de ruína em análise quanto das va-
riabilidades das médias espaciais das
propriedades dos solos (quando for
o caso), bem como que os valores
obtidos sejam confrontados com os
limites de aceitabilidade anterior-
mente mencionados. Destacou duas
recomendações acauteladoras: ter
senso crítico em relação aos valores
calculados de probabilidade de ruína
e saber que a escala de flutuação é
um parâmetro muito importante em
qualquer modelagem probabilística
de solo.
Hachich apresentou um breve tribu-
to aos seus notáveis professores, na
Politécnica da USP (Décio de Za-
gottis, Victor de Mello e o próprio
Milton Vargas, patrono da Palestra)
e no MIT (Cornell, Vanmarcke,
Whitman, Baecher, Veneziano e
Christian), encerrando a palestra
com um breve resumo do passado,
presente e futuro dos processos de
verificação da segurança nos proje-
tos geotécnicos.
Após a fala de Waldemar Hachi-
ch, o professor e ex-presidente da
ABMS Alberto Sayão fez a entre-
ga do Prêmio Manuel Rocha da
ABMS a Luciano Jaques de Moraes,
engenheiro civil e ex-vice-presidente
da entidade. O prêmio foi entregue
pela dedicação na Associação e a
suas demais atuações como profes-
sor, projetista e consultor.
O presidente do Clube de Enge-
nharia, Pedro Celestino, elogiou a
ABMS pela 14ª edição da palestra
Milton Vargas e demais eventos
realizados ao longo do ano: “É uma
entidade que consegue efetivamente
contribuir para o aprimoramento
do conhecimento nessa área e que
incorpora a juventude”.