Jornal do Clube de Engenharia 596 (Novembro de 2018) | Page 4
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DEBATES
Desde o mês de agosto o Clube de
Engenharia vem sediando o “Ciclo
de Palestras: Geopolítica, Soberania,
Economia e Desenvolvimento”, sob a
responsabilidade, em sua maioria, de
professores do Instituto de Economia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro
(IE/ UFRJ), organizado pelo Instituto
com o Programa de Pós-Graduação em
Economia Política Internacional (PEPI).
A realização é do Conselho Regional de
Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro
(CREA-RJ), da Associação dos Engenheiros
da Petrobras (AEPET) e da Associação dos
Funcionários do BNDES (AFBNDES),
além do Clube de Engenharia.
“Petróleo, guerra e finanças internacionais”
foi, em 19 de outubro, o tema da palestra
do professor Ernani Teixeira Torres Filho,
do Instituto de Economia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ), que
também já atuou como superintendente
da área de exportação do BNDES; e no
dia 26 de outubro o professor Nicholas
Miller Trebat abordou em sua palestra o
tema “Política econômica e populismo no
desenvolvimento econômico estadunidense:
uma perspectiva histórica”. Nicholas Miller
Trebat possui graduação em Economia -
Williams College; mestrado e doutorado
em Economia pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro. Atualmente é professor
adjunto do Departamento de História
e Economia da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (DHE-UFRRJ)
e membro do corpo docente do Programa
de Pós-Graduação em Economia Política
Internacional do Instituto de Economia da
universidade.
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O poder do petróleo
O petróleo é o recurso energético que, desde o
século XIX, vem influenciando grande parte das
movimentações geopolíticas no mundo e o próprio
sistema financeiro internacional. Ao falar sobre
“Petróleo, guerra e finanças internacionais”, Ernani
Teixeira Torres Filho abordou a história do esta-
belecimento do petróleo no mundo, impulsionado
principalmente por conflitos armados. Apesar do
uso já na I Guerra Mundial, foi no início do século
XX que a Inglaterra, até então centro político e
econômico do planeta, percebeu, na disputa pela
África, a necessidade de mudar sua base energética
do carvão para o petróleo. “O petróleo nasce, es-
trategicamente, como arma de movimentação do
sistema de transporte de guerra”, afirmou o pro-
fessor. A II Guerra Mundial já foi toda montada
estrategicamente em virtude do petróleo.
Ernani Teixeira também destacou os diversos
arranjos feitos para se evitar que o mercado de
petróleo funcionasse no modo de oferta e deman-
da, ou seja, sem grandes cuidados para garantir as
reservas e a continuidade das fontes. Um deles é a
Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(OPEP), cujo objetivo, entre outros, é preservar a
demanda e garantir renda aos países petroleiros,
com visão de longo prazo. Corresponde à OPEP
cerca de 30% da produção mundial hoje. Outro
organismo é a Agência Internacional de Energia,
formada por países ricos com visão de segurança
energética e desenvolvimento econômico, que
mantêm relações com o mundo todo.
O dólar e as sanções
No entanto, os Estados Unidos controlam o co-
mércio internacional de petróleo e, por consequ-
ência, o sistema financeiro internacional. O motivo
disso é a fixação do dólar como moeda dominante
para as transações internacionais, e uma das con-
sequências é poder determinar países que ficam
fora do sistema, como o Irã. Segundo o professor,
o Irã é hoje a “fratura geopolítica” em termos de
petróleo, pois o país, rico nesse recurso natural e em
condições de exportar, sofre sanções dos Estados
Unidos. Desde agosto, o país se encontra proibido
de comprar dólares e metais preciosos, e estão pre-
Geopolítica, Soberania e Desenvolvimento
Ernani Teixeira Torres Filho:”O petróleo nasce, estrategicamente,
como arma de movimentação do sistema de transporte de guerra.”
vistas novas sanções referentes à área petrolífera e
transações de instituições financeiras com o Banco
Central do Irã.
Brasil: posição estratégica
Estabelecida a grande necessidade de petróleo
em todo o mundo, principalmente em sistema de
transporte e para conflitos armados, Teixeira acre-
dita que o petróleo não vai perder sua hegemonia
como recurso energético, pelo menos, por mais
20 anos. O Brasil, nesse cenário, tem uma posição
estratégica, uma vez que é a segunda fronteira mais
importante de expansão da produção petrolífera,
atrás apenas dos Estados Unidos. Além disso, está
relativamente próximo dos importadores: o merca-
do norte-americano e o mercado europeu. Mas o
principal ponto é ser um país com reservas que não
vão se esgotar tão rapidamente, resolvendo o pro-
blema das principais empresas em nível mundial,
que já tiveram 70% do mercado e hoje têm cerca de
10% em virtude da escassez de produção. “O Brasil
cai como uma luva e pode cobrar caro. O grande
atrativo do Brasil, além de ter pré-sal e outras con-
dições favoráveis, é o fato de que a gente entra na
estrutura de mercado resolvendo um problema de
desequilíbrio de longo prazo seriíssimo do ponto
de vista das empresas”.