Jornal do Clube de Engenharia 596 (Novembro de 2018) | Page 3

NOVEMBRO DE 2018 ENGENHARIA CNE ouve em Audiência Pública a voz da Engenharia O encontro, promovido pelo Conse- lho Nacional de Educação (CNE), realizado no Clube de Engenharia, reuniu cerca de 250 participantes que em sua maioria viu nas propos- tas mais retrocessos que avanços. Foram consensuais na avaliação crí- tica questões como a falta de diálogo com as universidades e com os con- selhos regionais e federal sobre as mudanças na formação profissional e também a proliferação de cursos a distância (EAD). Segundo dados do Ministério da Educação (MEC), de menos de mil cursos no final dos anos 1990, o país passou para cerca de 5,8 mil em novembro de 2018. Das quase 1,4 milhões de vagas ofe- recidas nas universidades públicas e privadas, 566,5 mil são de cursos a distância, quase em sua totalidade (563,4 mil) em instituições privadas. Conteúdo mínimo Além do fato de as novas diretrizes serem apresentadas sem discussão com as Instituições de Ensino Su- perior (IES) e entidades da área, também é grande a preocupação com a proposta da retirada do conteúdo mínimo dos cursos de Engenharia. A crescente evasão, em parte motivada pela baixa qualidade do ensino mé- dio e fundamental, também ocupou boa parte dos debates, com críticas à diretriz que estabelece que as univer- sidades criem cursos de nivelamento, Questionamentos A convite da Academia Nacional de Engenharia e do Clube de En- genharia, comunidades acadêmicas, científicas e tecnológicas, gestores públicos, diretórios acadêmicos, conselhos regionais e o Conselho Federal de Engenharia e Agrono- mia, entre outros segmentos, prota- gonizaram importante debate, em 21 de novembro, na Audiência Pú- blica sobre Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Gradua- ção em Engenharia. O presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Joel Krüger expressou sua preocupa- ção com a ausência da participação do Confea nas diretrizes propostas. “Nós fizemos uma série de pondera- ções [ao documento inicial] e, talvez pela pressa, nada foi acatado. Parece que estamos discutindo, mas o rela- to está pronto e não será alterado”, questionou. Proposta apresentada: que o Clube transforme a atual Comissão em um fórum de debate permanente. transferindo assim a responsabilidade da preparação própria do ensino bá- sico para o ensino superior. “A proposta tem avanços quando prega uma flexibilização da estrutura curricular, e tem retrocessos, quando não referencia as matérias de for- mação básica, formação profissional geral e formação profissional espe- cífica”, afirmou o conselheiro e ex- -presidente da Academia Nacional de Engenharia (ANE) e ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professor Paulo Alcântara Gomes, que preside a comissão mista criada pelo Clube de Engenharia e a ANE para aprofun- dar o estudo do tema. “Essa ausência de referências pode gerar problemas extremamente graves. Não se trata de um currículo mínimo, mas de conteúdos que devem fazer parte da estrutura curricular considerada razoável para formar um engenheiro de qualidade”. Para o professor, é importante que os cursos de Enge- nharia incluam, em seu cerne, três culturas: da formação continuada, do empreendedorismo e da ino- vação. “Não se trata de disciplinas, mas de referenciais que devem estar presentes ao longo de todo o curso, preparando o profissional para os desafios da realidade”, defendeu. Diretora da Escola Politécnica da UFRJ, a mais antiga escola de En- genharia das Américas, a professora Claudia Morgado destacou os “peri- gos” que identifica no texto. “Assim como está apresentado podemos pegar um curso de tecnólogo, elevar a 3.600 horas, com qualquer con- teúdo, e dar o título de engenheiro. (...) Não tem cabimento um curso que não tem conteúdo, não tem um projeto pedagógico que garanta que estou formando um engenheiro e que ele possa exercer essa profis- são em qualquer lugar do mundo”, criticou. Entre outras diretrizes questionadas por Claudia Morga- do está a mudança do parecer que sustentou a grade curricular das 600 horas na formação do Engenheiro de Segurança, estabelecendo, a partir de encaminhamentos de faculdades privadas, que o curso é lato sensu e passa a funcionar com 360 horas, sem a carga horária mínima de 600 horas. “Com isso se desregulamen- tou um curso que dá 18 atribuições profissionais somente para gradua- dos em Engenharia e Arquitetura, e que é uma Lei Federal do CREA”, concluiu, apontando a necessidade urgente de redação de um novo texto que atenda às demandas enca- minhadas. “Quando tem grandes instituições de ensino, o sistema profissional, e inúmeros outros especialistas e pes- quisadores apontando uma série de dificuldades na proposta, nós pre- cisaríamos aprofundá-la um pouco mais. O tema é complexo e relevante. Não podemos, por causa de calen- dário, porque termina um governo e começa outro, aprovar de qualquer maneira uma nova diretriz curricular. Por isso gostaria de pedir um pouco mais de compreensão dos atores que têm poder de decisão”, ponderou Krüger, sugerindo a criação de mais espaços de discussão e enfatizando a necessidade de que as críticas sejam consideradas. Entre as propostas apresentadas, a su- gestão de que o Confea tenha um as- sento no Conselho Nacional de Edu- cação e a solicitação de que o Clube de Engenharia e a ANE mantenham o trabalho da comissão que vem estu- dando o tema e promovam reuniões semelhantes criando desta forma um fórum permanente de debates. No encerramento, Pedro Celestino deu ênfase à posição consensual dos participantes ao afirmar: “Esperamos que esta reunião tenha mostrado ao Conselho Nacional de Educação que é preciso mais tempo para fazer a sintonia fina da proposta [novas di- retrizes para os cursos de graduação] com o que aqui foi discutido”. Leia mais: http://bit.ly/audiência_pública 3