Uma tragédia nacional
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SETEMBRO DE 2018
POLÍTICAS PÚBLICAS
Manifestação pública do Clube de Engenharia , do Confea e do Crea-RJ
O incêndio que atingiu o Museu Nacional foi destaque na imprensa nacional e internacional , identificado em muitos veículos como uma “ metáfora ” da situação atual do país . A dimensão da tragédia impactou o mundo . No Brasil , entre os setores que imediatamente se posicionaram , a engenharia somou sua voz às inúmeras manifestações das áreas de ciências , educação , cultura e tantas outras , inconformadas com a perda de nossa memória e de pesquisas irrecuperáveis destruídas pelo fogo . Publicamos a seguir o posicionamento do Clube de Engenharia , do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia ( Confea ) e do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro ( Crea-RJ ).
Uma tragédia nacional
03 / 09 / 2018
O Clube de Engenharia tem uma longa e ativa trajetória em defesa da Democracia , da Soberania e da Engenharia brasileiras . Nessa perspectiva e como organização da sociedade civil sem qualquer vinculação ou conotação partidária , mas atento e vigilante vem acompanhando fatos e eventos políticos atuais que podem afetar , perversamente , a construção da grande Nação Brasileira , protagonista do Século XXI .
A tragédia havida que afetou intensamente as atividades e a própria existência do Museu Nacional , na Quinta da Boa Vista , tem muito a ver com esta entidade . A História de nosso país e da população que o habita em seus aspectos políticos , culturais e científicos , consubstanciada no precioso acervo que lá existia , constitui o fundamento dos três eixos que sustentam a nossa trajetória de lutas .
Em quaisquer circunstâncias , os reveses eventuais que afetam , simbólica e fisicamente , as instituições e a sociedade , não constituem eventos definitivos . A resistência , o empenho , a dedicação , a criatividade e o estudo – atributos naturais do ser humano e de suas organizações – certamente permitirão recuperar as perdas que acabamos de sofrer . É indispensável , no entanto , corrigir erros cometidos , prover os recursos financeiros necessários e administrar com proficiência . O governo e as instituições públicas precisam , cada qual , desempenhar o seu papel com tais atributos .
O Clube de Engenharia , com as atitudes acima referidas coloca-se à disposição para contribuir como seja possível e requerido . Conclama os profissionais de Engenharia e Arquitetura , seus associados ou não , a participarem dessa cruzada , ao tempo em que prossigam na luta em defesa da democracia e por um desenvolvimento econômico soberano , sustentável e socialmente inclusivo .
Clube de Engenharia A Diretoria
Museu Nacional foi devastado pela falta de manutenção
Brasília , 03 / 09 / 2018
Falta de manutenção e cuidados básicos com as normas de engenharia provocam tragédias . Comprovam isso exemplos recentes de incêndios que atingiram o Museu da Língua Portuguesa , o edifício Wilton Paes de Almeida e o que destruiu ontem ( 2 / 9 ) o Museu Nacional . Em todos os casos , queima-se parte de nossa história e , dessa vez , de outros povos .
O Conselho Federal de Engenharia e Agronomia ( Confea ) e o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro ( Crea-RJ ) veem esse incêndio como mais um patrimônio da humanidade que foi vítima do abandono e do descaso de sucessivos governos , que agora devem apontar o dedo no seu antecessor e vice-versa . Mas fica fácil perceber o abandono do local quando a imprensa registrou ontem que o último presidente da República a visitar o Museu Nacional foi Juscelino Kubistchek de Oliveira ( 1956-1961 ).
Também foi vítima da nossa burocracia , sempre lenta na liberação de verbas para a conservação da cultura brasileira . Desde 2015 , o órgão pleiteava recursos junto ao BNDES , que só seriam liberados após o período eleitoral .
Mas para nós do Confea e do Crea-RJ , a principal causa desse desastre foi a falta de manutenção predial e do cumprimento de normas básicas de segurança contra incêndios . Sem que essas manutenções sejam realizadas em viadutos , escolas , edifícios públicos ou privados , vamos continuar a ficar lamentando novas tragédias que se repetirão com frequência cada vez maior .
O lastimável episódio reflete ainda o desrespeito com diversas normas de segurança e também o descaso com interesse do país em formar bons profissionais . Recentemente , portaria do MEC reduziu de 600 para 360 horas a carga horária da pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho , o que é temerário , pois afetará a qualidade da formação de novos profissionais .
Agora , proposta do Conselho Nacional de Educação ( CNE ) visa reduzir a carga obrigatória de todos os cursos de engenharia , alterando a diretriz curricular de carga mínima de 3.600 horas , para carga referencial . Ou seja , cumpre quem quiser , pois passará a ser uma “ referência ” e não mais uma obrigatoriedade .
Há pouco , em Maceió , nas Alagoas , reunimos 3.000 profissionais e estudantes , pesquisadores , cientistas e professores propondo a Engenharia e a Ética na Reconstrução do Brasil em tempos marcados por enormes incertezas e pelo retrocesso generalizado .
Por meio da Carta de Maceió , assinada pelo colegiado das entidades nacionais que integram o Sistema Confea / Crea , as lideranças da área tecnológica nacional manifestam a “ insatisfação cívica de quem repudia o progressivo desmantelamento da economia nacional e o agravamento das tensões sociais ”. As lideranças também se comprometem a não nos omitir , a defender a importância do diálogo com os diversos órgãos do governo e outras instituições e mostrar que a Engenharia , a Agronomia e Geociências são alavancas propulsoras do desenvolvimento nacional e precisam ser respeitadas e ouvidas .
É preciso que haja união de muitos para promover fiscalizações preventivas integradas com órgãos federais , estaduais , municipais e distritais , alcançando construções públicas e privadas . É preciso defender a aplicação da lei de manutenção predial e de prevenção de incêndios . É preciso recuperar o Brasil com a consciência voltada para o bem comum . É preciso parar de chorar sobre as cinzas da nossa história e reconstruir esta nação .
Joel Krüger - Presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia
Luiz Antônio Cosenza - Presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro
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