Jornal do Clube de Engenharia 577 (Abril de 2017) | Page 7

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ABRIL DE 2017
longo prazo e intensifica a transferência de empregos para o exterior .
9 . O rebaixamento do investimento público deve ser revertido . As exigências de conteúdo tecnológico local e nacional , em função de seu potencial indutor do investimento privado local , devem ser mantidas .
10 . Os bancos públicos têm um papel importante no financiamento do investimento privado e na geração de empregos , papel esse que não pode ser prejudicado pela eliminação ou grande encarecimento de suas fontes de recursos , aumentando juros e inviabilizando inversões de maiores riscos , prazos e conteúdos tecnológicos .
Está claro o propósito da atual política econômica , de estabelecer para o Brasil nas próximas décadas o rumo da subserviência ao estrangeiro , da exclusão social , do desprezo à cidadania e à democracia , em contraposição ao Brasil que almejamos , democrático , soberano , economicamente desenvolvido e socialmente inclusivo .
Nossa democracia não pode ser atropelada por um processo demasiadamente atabalhoado de
mudanças nos estatutos legais que regulam nosso pacto social , retirando direitos fundamentais . A pressa é inimiga da legitimidade porque visa bloquear o debate público e , particularmente , tolher a participação dos maiores afetados por essas reformas .
​Vivemos um momento delicadíssimo . Nosso país , uma das 10 maiores economias do mundo , não pode se apequenar . Urge resistir ao desmonte em curso , do Estado , da economia e da política . É esse o nosso compromisso .
São Paulo , 22 de março de 2017
Depoimentos
Como físico e cidadão preocupado com os rumos da política e da economia em nosso país , aderi ao manifesto com grande entusiasmo . Há duas razões que me levam a assiná-lo . As duas são sugeridas por metáforas que têm raízes na física . Uma nasce da observação que o avião voa desde que tenha certa velocidade . Os economistas que nos acompanharam na redação do manifesto têm razão quando defendem que a economia precisa de movimento , ganhar velocidade , para se sustentar . Sem velocidade cai . Outra é mais crítica . Eles , economistas , insistem em considerar a forquilha do barco , fixa no próprio barco , o ponto de apoio dos remos ( e alavancas ) do barco da
economia . Ora , desde os tempos de Galileu se sabe que o ponto de apoio dos remos de um barco está na água em que o barco navega e não na forquilha , como se pensava até então . É , a meu ver , na água-sociedade que está o ponto de apoio dos remos do barco da economia , e não na forquilha . É nos movimentos sociais que se organizaram a partir de 1986 e da Constituição de 88 . Hoje eles existem em grande número e atuam por toda parte . São os pontos de apoio de nossa mobilização . Não existiam em 64 e ou 88 . A eles devemos dedicar o manifesto e com eles devemos promover uma segunda rodada de reflexões sobre a sombria situação da nação . Ennio Candotti é físico , ex-presidente da SBPC e atual diretor do Museu da Amazônia .
Dois pontos são mais importantes para a indústria . Um é o câmbio , que é importante porque enquanto não houver um câmbio industrializante , vamos continuar a perder empregos de qualidade no país . Nada mais compensa ser feito no Brasil por conta da falta de uma política cambial . Se tivéssemos tomado conta da nossa moeda , sempre nos perguntando qual é o câmbio que gera empregos , não teríamos deixado a nossa moeda chegar nesse ponto de desvalorização , onde quase nada compensa fabricar no Brasil . Tudo ficou caro . Outro ponto importante é o conteúdo local . O governo do Brasil está abrindo mão
de pedir contrapartida nas concessões que está fazendo , seja na exploração de riquezas naturais ou de serviços de transporte . Com isso , está perdendo a oportunidade clara de garantir encomendas e empregos . A falta de regras de conteúdo local é importante neste momento justamente porque o ambiente econômico - não só o câmbio , mas os juros e os tributos - conspira contra a competitividade dos bens produzidos no Brasil . Este é o momento de buscar a participação da produção nacional através de regras que peçam contrapartidas nas concessões . Cesar Prata é vice-presidente da ABIMAQ ,
Concordo com todas as afirmações do Manifesto e acho que o Clube de Engenharia deveria assinar como entidade , já que o Conselho Diretor se manifestou favoravelmente . É um manifesto muito importante neste momento . As propostas da nova política do governo estão encontrando resistências de interesses muito legítimos de trabalhadores e da nação brasileira . Com certeza terá uma recepção muito grande até porque o seu inspirador , o ex-ministro Bresser Pereira , é uma figura altamente respeitada , professor emérito de grande respeito em todo Brasil . Roberto Saturnino Braga é ex-senador , ex-prefeito do Rio de Janeiro , presidente do Centro Internacional Celso Furtado e conselheiro do Clube de Engenharia .
Assinam , entre outros : Aldo Fornazieri ( cientista político , FESPSP ), Angelo Del Vecchio ( sociólogo ), Antonio Correa de Lacerda ( economista , PUC-SP ), Artur Araujo ( consultor da Federação Nacional dos Engenheiros ), Cesar Prata ( vice-presidente da ABIMAQ ), Clemente Ganz Lucio ( diretor técnico do DIEESE ), Clovis Francisco Nascimento Filho ( Senge-RJ , Fisenge ), Ennio Candotti ( físico , ex-presidente da SBPC e atual diretor do Museu da Amazônia ), Franklin Martins ( jornalista , ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social ), Gastão Wagner de Souza Campos ( Medicina , Unicamp , presidente da Abrasco ), Gilberto Bercovici ( Direito , USP ), Guilherme Estrella ( geólogo , ex-diretor da Petrobras ), Hélio Campos Mello ( jornalista , revista Brasileiros ), João Antonio Moraes ( Federação Única dos Petroleiros-FUP ); João Guilherme Vargas Netto ( consultor sindical ); Ladislau Dowbor ( economista , PUC-SP ), Lais da Costa Manso ( socióloga ), Luiz Carlos Bresser-Pereira ( ex-ministro da Fazenda , FGV ), Manuel Domingos Neto ( Universidade Federal Ceará ), Márcio Pochmann ( economista , UNICAMP ), Mario Scheffer ( FMUSP e vice-presidente da ABRASCO ), Murilo Celso de Campos Pinheiro ( presidente do Seesp e do FNE ), Olimpio Alves dos Santos ( Senge-RJ e Fisenge ), Otavio Velho ( antropólogo , UFRJ ), Pedro Celestino Pereira ( presidente do Clube de Engenharia- RJ ), Pedro Paulo Zahluth Bastos ( economista , UNICAMP ), Roberto Amaral ( ex-ministro da Ciência e Tecnologia ), Rodrigo de Morais ( Sindicato dos Metalúrgicos de SP ), Samuel Pinheiro Guimarães ( diplomata , ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos ), Saturnino Braga ( presidente do Centro Internacional Celso Furtado ), Ubiratan de Paula Santos ( médico e conselheiro da FESPSP ), William Nozaki ( cientista político , coordenador da Cátedra Celso Furtado – FESPSP ).

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