Jornal do Clube de Engenharia 577 (Abril de 2017) | Página 5

ABRIL DE 2017 engenharia As águas do São Francisco começam a chegar às cidades Depois de longa jornada, o rio São Francisco já abastece Monteiro, com 33 mil habitantes, na Paraíba, e Sertânia, com 35 mil, em Pernambuco. Até o final do mês em curso a previsão do governo federal é que alcance a Região Metropolitana de Campina Grande/PB, vindo pela calha do rio Paraíba até o açude Epitácio Pessoa, conhecido como Boqueirão, de onde suas águas poderão ser distribuídas para cerca de 716 mil pessoas, em 18 cidades. O prazo para chegar à Campina Grande foi apresentado no último dia 5 de abril pelo ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, em audiência pública do Senado Federal, na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR). Um grupo de trabalho foi criado para acompanhar as obras e realizar audiências públicas pelas cidades, com representações estaduais e da sociedade civil. Engenharia em marcha “É um projeto extraordinário”, comemora o engenheiro Paulo José Poggi da Silva Pereira, conselheiro do Clube de Engenharia, que integrou a equipe responsável pelos primeiros estudos para a transposição do rio São Francisco, há 36 anos. De acordo com a edição de fevereiro do Sumário Executivo das obras, o projeto tem 96,06% de execução física concluída, entre projetos executivos, obras civis, instalações eletromecânicas e ações ambientais. O Eixo Norte conta com 94,63% de execução. O mais avançado é o Eixo Leste, com 98,08%. Seus 217 quilômetros A etapa inaugurada em março – em Sertânia e Monteiro – consta do Eixo Leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF). A última estação de bombeamento (EBV-6) desse eixo, em Sertânia/ PE, está funcionando com os dois conjuntos de motobomba da estrutura para que, desde o início de abril, o leito do rio Paraíba, em Monteiro/PB, receba volume máximo de água e acelere a passagem ao reservatório Boqueirão/PB. Túnel Cuncas II, com cerca de 4 mil metros, parte do Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco, em São José de Piranhas, Paraíba de extensão incluem canais, seis estações de bombeamento, cinco aquedutos, um túnel, uma adutora e 12 reservatórios. As estruturas de engenharia passam pelos municípios pernambucanos de Floresta, Betânia, Custódia e Sertânia até Monteiro, na Paraíba. Atualmente, as seis estações de bombeamento desse eixo estão em operação (EBV- 1, 2, 3, 4, 5 e 6). O Projeto cobre, ao todo, 477 quilômetros de extensão, com orçamento de R$ 10,7 bilhões, e pretende prover o abastecimento de água a 390 municípios, ou 12 milhões de pessoas, nos estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, além de 294 comunidades rurais às margens dos canais, que incluem quilombolas, etnias indígenas e assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Poggi trabalhava no Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS), quando, em 1981, o então ministro do Interior, Mario Andreazza, decidiu encarregá-lo dos primeiros estudos para a realização da obra – embora ela já tivesse sido considerada em 1870, ainda no tempo do Império. Em 1990, ao assumir o governo, Fernando Collor extinguiu o DNOS e paralisou a proposta, só retomada no governo Lula. “Há 11 anos, o Clube de Engenharia entrou firme da defesa da integração do rio São Francisco”, lembra. “Formou uma comissão, manifestou-se junto ao governo federal, escreveu para os governadores dos estados que iam ser beneficiados e atuou fortemente a favor do projeto. Acredito que foi importante esse posicionamento.” Segundo Poggi, houve muitas pressões, por exemplo, para que as águas fossem trazidas do Tocantins, região com mais água e menos gente. “Mas o custo seria várias vezes mais alto.” O impacto fundiário O engenheiro comemora os ganhos que o projeto trará às populações. “Não prevíamos isso no início, mas já existem indústrias se preparando para se instalar na região”. Ele acredita que o desenvolvimento pode gerar recursos, inclusive para investir no próprio rio, apoiando sua recuperação. Em sua incansável trajetória de pensar o país e trabalhar pelo desenvolvimento nacional, o Clube de Engenharia, em 8 de agosto de 2005, convidou o então ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, para apresentar, no Conselho Diretor, o “Projeto de interligação da bacia do rio São Francisco com as bacias do Nordeste Setentrional”. O ministro, na ocasião, informou que todas as concepções anteriores do projeto desconsideravam o impacto sobre a estrutura fundiária do Nordeste. “O impacto sobre a posse da terra será transcendental, incalculável e revolucionário. Já está acontecendo apenas pela notícia de que a água vai chegar. Nós estamos titulando nas margens dos rios secos todas as posses pequenas até 100 hectares, para garantir ao pequeno o benefício dessa obra, de forma a congelar qualquer possibilidade de especulação fundiária, de concentração de terra com o benefício da água”, ressaltou. 5