Jornal do Clube de Engenharia 577 (Abril de 2017) | Page 4

www.clubedeengenharia.org.br setor elétrico Novas propostas para um sistema complexo representa uma “virada tecnológica”, pois já ultrapassou de longe a nuclear, mas não é distribuída, porque necessita de gerador eólico, cujo fabricante brasileiro é pequeno. Outro problema destas fontes é que são intermitentes. A biomassa, que tem a grande vantagem de ter um ciclo que se fecha, já que os gases da sua combustão são absorvidos no crescimento do vegetal, também tem sido mal aproveitada. Da esquerda para a direita, Artur Obino, Renato Pinto de Queiroz, Luiz Pinguelli Rosa, Sebastião Soares, Adilson de Oliveira, Ildo Sauer e Mariano de Oliveira. Questões candentes para o setor elétrico brasileiro, como a obrigação do estado no suprimento de energia, a participação de capitais privados nacionais e estrangeiros, a predominância hidrelétrica do sistema, o impacto negativo das usinas térmicas, o papel das usinas nucleares, a contribuição das fontes renováveis e novos caminhos para a expansão do setor foram discutidos em 31 de março, no Clube de Engenharia. Especialistas convidados comentaram documento produzido por um Grupo de Trabalho que discute o setor elétrico no Clube, cujo resumo executivo traz dez diretrizes consideradas estratégicas para o equilíbrio e a expansão do setor. 4 O primeiro vice-presidente do Clube, Sebastião Soares, abriu a seção enfatizando que o Brasil tem plenas condições para assegurar a sua soberania energética, sendo preciso definir os ajustes necessários para o setor fornecer energia de maneira sustentável e econômica – daí a importância da iniciativa do GT de produzir um estudo que possa influenciar o poder público. Para o professor da Coppe/UFRJ Luiz Pinguelli Rosa, o maior problema é o planejamento e a gestão do sistema. Apesar de o Brasil ter acumulação de água para energia hidrelétrica, no Nordeste o nível dos reservatórios está restrito pela ausência de chuvas, demandando um sistema interligado para transferir energia de um lugar para outro. A sazonalidade também afeta as novas hidrelétricas a fio d’água, porque a potência gerada varia muito em função da vazão dos rios, exigindo complementação. Por outro lado, não ter reservatório reduz a pressão ambiental. Um entrave ao desenvolvimento, segundo Pinguelli, é a falta de políticas de incentivo a outras formas de geração de energia, como a solar (fotovoltaica) - cujo custo de instalação ainda é alto para a população -, e a eólica - que Em relação à energia nuclear, Pinguelli destacou a vantagem de não contribuir para o aquecimento do planeta, pois não emite gases do efeito estufa, mas mencionou o risco de acidentes e a falta de destino resolvido aos rejeitos radioativos no Brasil. De acordo com o professor Adilson de Oliveira, do Instituto de Economia da UFRJ, é consenso que o sistema elétrico não atende aos seus dois objetivos básicos: tarifas módicas e suprimento elétrico confiável. Para ele, há um problema estrutural: a gestão do sistema é cooperativa, mas a expansão competitiva. “O mercado regulado e o livre funcionam separados, como se isso fosse possível”, ironizou. O cerne da discussão, na opinião de Oliveira, é como gerenciar os riscos de ordem econômica e de confiabilidade do novo sistema. A seu ver, há dois papéis que o estado não pode abrir mão: a gestão dos riscos dos reservatórios hidrelétricos e a expansão da rede de transmissão. “O Estado tem que definir para onde vão as linhas no território. Isso é geopolítica. Leiloar linha de transmissão não pode ocorrer. O Estado tem que construir independentemente dos interesses privados”, afirmou. Ildo Sauer, professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, questionou por que o setor está em crise se dominamos a tecnologia e temos os recursos naturais. Ele elogiou as propostas do GT e enfatizou que o mais difícil é conciliar os três grupos de interesse – o lobby dos investidores e acionistas, os consumidores e a população. “Não faltam recursos, inclusive alinhados com redução das emissões. Falta reorganizar a estrutura do setor e mediar o conflito. O desafio é implementar a reforma e fazer transição. A solução existe, a questão é a força política para implementá-la”, disse. O engenheiro Renato Pinto de Queiroz, do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico (Ilumina) -, representando o diretor da entidade Roberto Araújo, defendeu o papel da Eletrobras como coordenadora do novo paradigma em que ganham relevância questões como segurança energética e mudança climática e surgem novas tecnologias competitivas, como a eólica. Para ele, a ação do Clube é muito importante nesta reformulação. Também integraram a mesa o chefe da Divisão Técnica de Energia do Clube de Engenharia, Mariano de Oliveira, e o diretor de Atividades Técnicas, Artur Obino, que defendeu a realização de leilões para contratação de capacidade, ao invés da aquisição de energia. Leia mais no Portal do Clube de Engenharia goo.gl/Uo1xVU