Jornal do Clube de Engenharia 575 (Fevereiro de 2017) | Page 9

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o país

Indústria e Engenharia reagem em defesa do conteúdo local

Parlamentares ligados à Frente Parlamentar em Defesa da Engenharia , Infraestrutura e Desenvolvimento Nacional e dirigentes de entidades representativas da Engenharia e da Indústria se movimentam em defesa da manutenção da política de conteúdo local , praticada pela Petrobras desde que foi criada .
A Petrobras está submetida a um autêntico desmonte , para que passe a ser produtora , por algum tempo , de petróleo bruto , já que está abrindo mão até de explorar a maior reserva descoberta no planeta nos últimos 30 anos , a do Pré Sal . Desfaz-se , sem transparência , a toque de caixa , de ativos valiosos , comprometendo irreversivelmente seu futuro como empresa integrada de petróleo , como as grandes congêneres mundiais . São 60 anos de história irresponsavelmente destruídos .
A indústria de óleo e gás aqui instalada despertou para a gravidade do desmonte na discussão , em curso , da política de conteúdo local mínimo , que as petroleiras estrangeiras , desta vez com decidido apoio da Petrobras , querem revogar , sob a alegação de que o que se produz aqui é mais caro e não tem a qualidade do que se compra lá fora . É uma visão simplista , que conduz a erros graves , a partir da noção de que produzir aqui é mais caro para o consumidor . Sem produção local não há emprego , e sem emprego não há como sustentar uma população de mais de 200 milhões de pessoas - e tudo se torna insuportavelmente caro . Se não valorizarmos o nosso mercado interno , um dos maiores do mundo , teremos como resultado a queda na renda , empobrecimento e mesmo a miséria .
É preciso entender que a superação do atraso econômico de um país não é um processo inevitável , uma felicidade garantida que está ao alcance de todos , em qualquer época . É necessário que , em determinados momentos , sejam tomadas medidas concretas que podem estimular - ou atrasar - estes avanços . As empresas que podem concentrar essas decisões são “ âncoras ” e aqui no Brasil a principal delas é a Petrobras . Por quê ? Porque estamos falando de uma empresa responsável pela formação de cadeia de mais de 5.000 fornecedores , nacionais e estrangeiros , com uma capacidade de intervenção sobre o conjunto da economia , com efeitos reconhecidos sobre a qualidade de vida da sociedade , fruto da criação de centenas de milhares de empregos . Essa indústria trava agora batalha decisiva para a sua sobrevivência , pois é simplesmente impossível competir com produtos importados com absoluta isenção fiscal , a do Repetro , o maior programa de renúncia fiscal da nossa história , vigente há
20 anos e que se quer prorrogar , sob a alegação de facilitar vultosos investimentos estrangeiros .
Desde a década de 1950 , em particular a partir do governo Juscelino , as políticas de conteúdo local mínimo , aliadas a taxas de juros diferenciadas para investimentos , possibilitaram a rápida industrialização do Brasil . Essa foi a grande mudança ocorrida em nosso país , que permitiu a construção de um parque industrial respeitável pelo tamanho e pela relativa sofisticação tecnológica , eliminando aquela visão de que o Brasil estava condenado a ser uma grande nação agrícola e atrasada . Sem o BNDE e sem o GEIA ( Grupo Executivo da Indústria Automobilística ), que estabeleceu metas de progressiva nacionalização de partes e componentes de veículos automotores , São Paulo não teria se transformado na nossa locomotiva industrial .
Estamos agora diante de um dilema : seguimos o caminho da Noruega ou o da Nigéria ? Eram ambas pobres há cerca de 50 anos , até descobrirem petróleo . Ambas receberam bilhões de dólares de investimentos estrangeiros . A Noruega , mediante uma política de conteúdo local mínimo adequada , desenvolveu-se rapidamente , e ostenta hoje um dos melhores índices de desenvolvimento humano ( IDH ) do planeta . A Nigéria não se protegeu , tem hoje mais de 70 % da sua população abaixo da linha de pobreza e é um barril de pólvora . É esse o futuro que queremos para o Brasil ? É necessário , pois , dizer não ao desmonte e exigir uma mudança de rumos , para preservar o nosso parque industrial e os empregos , sem o que haverá o risco de uma convulsão social , cevada pelo desemprego e pela falta de perspectiva de desenvolvimento .
Desfaz-se , sem transparência , de ativos valiosos da Petrobras , comprometendo irreversivelmente seu futuro
Foto : Agência Nacional do Petróleo , Gás Natural e Biocombustíveis

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