Jornal do Clube de Engenharia 573 (Dezembro de 2016) | Page 4

www.clubedeengenharia.org.br indústria estágio 2.0 em que nos encontramos para o padrão 4.0”, escreveu em artigo recente (25/10), também no Valor Econômico. “Isto demanda que se enxergue muito além das necessárias reformas – nos planos fiscal, tributário, trabalhista, previdenciário – para preparar o Brasil a enfrentar os riscos e oportunidades da densa agenda de transformações tecnológicas que virá nos próximos anos.” O novo modelo de manufatura inteligente se baseia em processos digitalizados, redes de alta velocidade e sem fio, uso crescente de robôs, impressoras 3D e tecnologias de análises de dados não estruturados (big data). Uma mudança tão ampla de modelo produtivo que já está sendo chamada de quarta revolução industrial. Em 2020, de acordo com o artigo de Coutinho, a estimativa é de que 7 bilhões de indivíduos estarão ligados na web (via computadores e smartphones) e que 50 bilhões de dispositivos estarão instalados em máquinas, 4 equipamentos, veículos, bens duráveis, conectando-os a redes/ sistemas sob a internet. Para que a indústria brasileira sobreviva, Coutinho defende a reativação cíclica da demanda, reescalonamento de dívidas, redução do custo do crédito, desburocratização, indução de investimento em infraestrutura e contenção da valorização da taxa de câmbio. E, aos que sobreviverem, prevê “vida dura” para enfrentar as transformações tecnológicas nas economias desenvolvidas. “Muitas delas serão disruptivas. Ressalto as estratégias industriais em marcha nos Estados Unidos, Alemanha, China, Japão e Coreia para acelerar a automação computadorizada, abrangente e integrada pela denominada ‘internet industrial’.” Foco na competitividade De fato, dois estudos realizados este ano, pela PwC, do grupo PricewaterhouseCoopers, e pela A fábrica do futuro: robótica, realidade aumentada, processos 100% digitais Confederação Nacional da Indústria (CNI), indicam que as empresas brasileiras vão precisar queimar várias etapas no processo de transformação digital, se quiserem chegar a 2020 competitivas. Na sua maioria, ainda não digitalizaram processo básicos. para dar conta desse processo de transição, tentando assegurar ganhos de produtividade e atenuar os impactos na força de trabalho que originalmente não foi capacitada para atuar em processos tão radicalmente vinculados à Tecnologia da Informação. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) consultou 2.225 empresas, entre 4 e 13 de janeiro, e constatou que, apresentadas a uma lista de dez diferentes tecnologias, 42% não souberam identificar quais teriam maior potencial para impulsionar sua competitividade. Situação pior entre as de pequeno porte (57%) e também crítica entre as grandes (32%). O estudo conclui que o uso de tecnologias digitais na indústria brasileira é pouco difundido: 58% conhecem a importância dessas tecnologias para a competitividade da indústria e menos da metade as utilizam. De uma visita feita à Alemanha, convidado pela CNI e pela Câmara de Comércio Brasil-Alemanha, o economista Luciano Coutinho destaca, em seu artigo, a “abordagem pragmática para induzir as MPEs, com especial atenção às do setor de bens de capital e engenharia mecânica, a caminhar velozmente para o padrão 4.0”. Denominado metamorfose fabril (MetamorFAB), a iniciativa inclui financiamento público, subvenções à P&D, à eficiência energética e à redução de poluentes, tudo condicionado a um autodiagnóstico de cada empresa, validado por um consultor externo. “As indústrias matriciais, automobilísticas, de máquinas e ferramentas, só vão manter um ‘miolo duro’ mais restrito de trabalho e todo o mais vai para esferas diferenciadas de robóticas”, afirma o professor Francisco Teixeira. Fora da Europa, os Estados Unidos criaram a Rede Nacional pela Inovação na Manufatura, com financiamento público previsto em US$ 1 bilhão. A proposta é fortalecer centros de pesquisas em manufatura digital e design. Empresas da região Ásia/Pacífico projetam investimentos da ordem de US$ 60 bilhões na indústria da Internet das Coisas (IoT) em 2020. Globalmente, o Boston Consulting Group avalia que os investimentos na internet industrial vão passar de US$ 20 bilhões, em 2012, para mais de US$ 500 bilhões, em 2020. E a expectativa é de que a Indústria 4.0 agregue um ganho de eficiência à produção de 6% a 8%. De um lado, a promessa da Indústria 4.0 é aumentar a qualidade e o valor dos produtos e serviços. De outro, arrisca ampliar o desemprego e a desigualdade – dentro de cada país, e entre os blocos econômicos. Por isso, Estados Unidos e os países da União Europeia estão desenvolvendo políticas públicas