A maior empresa do Brasil vive momentos de mudanças de rumo . No início de outubro , a publicação do Plano de Negócios e Gestão 2017-2021 da Petrobras gerou debate nacional e forte reação dos segmentos que temem pelo futuro de um Brasil que se quer soberano . Na prática , o plano veio oficializar políticas e ações que já vinham sendo postas em prática desde a substituição da ex-presidente Graça Foster por Aldemir Bendine . Posteriormente , após a renúncia de Bendine , o projeto foi consolidado pelo presidente Pedro Parente , indicado pelo então governo interino de Michel Temer .

Investimentos anunciados de US $ 74,1 bilhões entre 2017 e 2021 formalizaram uma queda de 25 % nos investimentos previstos no Plano de Negócios e Gestão 2015- 2019 , revisados em janeiro de 2016 , que eram de US $ 98 bilhões . Outro ponto de destaque é a ampliação das parcerias e desinvestimentos , com previsão de US $ 19,5 bilhões no biênio 2017 / 2018 . Justificativa : “ Essas iniciativas , associadas a uma geração operacional de caixa estimada em US $ 158 bilhões , após dividendos , permitirão à Petrobras realizar seus investimentos e reduzir seu endividamento , sem necessidade de novas captações líquidas no horizonte do Plano ”. As parcerias estratégicas devem crescer nas áreas de Exploração

e Produção , Refino , Transporte , Logística , Distribuição e Comercialização .

Além da dívida que chega a 125 bilhões de dólares – o equivalente a 393,13 bilhões de reais –, resultado da queda aguda do preço do petróleo e da desvalorização do real em relação ao dólar , a empresa sofreu os reflexos de um grande esquema de corrupção descoberto e investigado pela Operação Lava Jato . Apesar de tudo isso existem sinais positivos : as ações da Petrobras na Bovespa quadruplicaram de valor nos últimos nove meses . Segundo alguns analistas , o motivo é o sentimento de estabilidade e o ambiente propício aos negócios , graças à mudança na gestão da empresa . No anúncio do novo plano , o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia , Paulo Pedrosa destacou ser “ um alívio para a nossa indústria ver a lógica econômica prevalecer ”.

O preço do sucesso

Embora a recuperação da empresa seja uma boa notícia , o preço a ser pago por isso pode ser muito alto , principalmente em cenário que admitia outras saídas menos impactantes . Por isso , muitos não comemoraram . Ao contrário , se unem para aprofundar o debate e

denunciar o que consideram crimes de lesa-pátria . Exemplo : junto com o que Pedrosa chamou de “ o fim do intervencionismo salvacionista estatal ” no setor é provável que desapareça também o conteúdo nacional , condenando a cadeia de fornecedores aqui instalados e soterrando , mais uma vez , a indústria naval . A confirmação das graves consequências possíveis veio apenas seis dias após a publicação do Plano de Negócios e Gestão : o consórcio responsável pelo Campo de Libra , na Bacia de Santos , um dos maiores do Pré-Sal e que tem a Petrobras como operadora , solicitou à Agência Nacional do Petróleo ( ANP ) a isenção de conteúdo local . Propõem a construção no exterior de uma plataforma ignorando os 55 % de conteúdo local estipulado pelo contrato .

Neste contexto , lideranças nacionais fazem ecoar suas críticas , entendendo que as políticas em implantação vão reduzir a Petrobras à condição de mera produtora de óleo bruto e gás , não integrada , nem verticalizada . Na mesma direção , avaliam que a filosofia existente por trás das políticas defendidas pela atual diretoria da empresa caminha na contramão do mundo . Avaliam que o que está em curso é a proposta de especializar a Petrobras em exploração , desenvolvimento e produção , deixando de ser uma

Homem trabalhando em plataforma semi-submersível

empresa integrada da área de petróleo e gás . A grande geração de lucro está no transporte , no refino para gerar derivados , está no produto petroquímico . A rentabilidade da produção de petróleo é baixa e , enquanto a Petrobras caminha para se especializar nessa área , todas as grandes petrolíferas do mundo , no sentido contrário , se consolidam como empresas integradas . As ameaças vão além . O corte de 25 % dos investimentos programados para a área de produção de óleo e gás e a consequente redução na

Foto : Juarez Cavalcanti