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Doping em Porto Alegre

por Celina Fagundes, Eduardo Severini, Lara Prestes e Melissa Larcen

O doping, caracterizado pelo uso de substâncias químicas, especialmente testosterona – o hormônio sexual masculino –, proibidas em diversas categorias esportivas, faz-se presente por todo o Brasil. Seus efeitos, que abrangem o aumento do vigor físico, da força e da agilidade, são considerados trapaça entre os atletas, sendo, portanto, atentamente combatido pelo território nacional.

Na cidade de Porto Alegre, especificamente, o

doping se dá, principalmente, no meio futebolístico,

que compõe o esporte mais famoso do estado do Rio

Grande do Sul. Anualmente, escândalos envolvendo os

jogadores da dupla Gre-Nal vêm à tona.

A dopagem, contudo, não se estende apenas à

utilização de hormônios. Em novembro do ano de

2015, por exemplo, dois jogadores do Internacional

foram pegos no exame antidoping. Nilton e Wellington

Martins foram a julgamento em dezembro por

ingerirem hidroclorotiazida e clorotiazida, substâncias

diuréticas proibidas. O time não foi punido, mas os

atletas sim: foram suspensos por 30 dias.

A realização de testes antidoping, no estado,

é limitada. No Brasil, só há um laboratório que é

credenciado pela Agência Mundial Antidoping

(WADA-AMA) para análises de amostras de controle de

doping humano. O Laboratório Brasileiro de Controle

de Dopagem, localizado no Rio de Janeiro, é o único

espaço apto, segundo a Agência, a conduzir testes

antidoping válidos para eventos de maior relevância.

Em Porto Alegre, então, é pequeno o número de laboratórios que trabalham com a dopagem, o que prejudica a investigação de casos ou acaba por mantê-los sem resolução. A Toxilab, laboratório renomado do estado, por exemplo, informa que realiza teste de testosterona e testosterona livre, além de demais exames hormonais de rotina; no entanto, não realiza exames antidoping.

Em contato com a equipe de reportagem, um atleta porto-alegrense, que preferiu não ser identificado, contou seus hábitos de uso e a forma de obtenção dos produtos: “Utilizo o Durateston® 250 mg. Também, uso anabolizante para cavalos, que compro em veterinárias, mesmo”. O Durateston é um esteroide anabolizante composto por quatro variações de testosterona (propionato de testosterona, fempropionato de testosterona, isocaproato de testosterona e decanoato de testosterona).

O atleta, ainda, ressalta os efeitos colaterais do uso: “Os contras são, principalmente, queda de cabelo, raiva excessiva, estresse, atrofia testicular e a diminuição da produção de testosterona naturalmente pelo organismo. Mas há muitos aspectos positivos em utilizar: ganho de massa magra, aumento de força, de disposição”.

É evidente, então, que a fiscalização acerca do doping e, por conseguinte, da utilização de anabolizantes, é fraca em Porto Alegre, permitindo o comércio de substâncias teoricamente proibidas facilmente, tanto em ambientes físicos quanto online. Apesar do impasse, o trabalho da Agência Brasileira de Controle e Dopagem (ABCD) tem se mostrado mais ativo, em decorrência da exposição recente de casos de doping no meio esportivo. Assim, sua missão, baseada em consolidar a consciência antidopagem, vem, progressivamente, se realizando.

28 Doping/Novembro 2016