A consequência da disputa entre os dois
grupos, que pode se perdurar ainda por anos,
são as atrocidades as quais os civis são sub-
metidos. O país vive uma espécie de limpeza
étnica que é realizada por meio de atos atrozes
como o estupro, incêndios, fome, assassina-
tos de crianças e castrações. Em meio a esses
crimes de guerra o grupo mais suscetível aos
ataques são as mulheres e as crianças que so-
frem com a invisibilidade e falta de proteção
em meio ao conflito.
As mulheres e a violência sexual sistemática
A violação de direitos e da integridade físi-
ca e psicológica das mulheres são crimes de
guerra que ocorrem corriqueiramente du-
rante os diversos ataques realizados por
ambas as facções no conflito civil sul-suda-
nês. Embora ocorram em ampla escala no país,
completando 6 anos desde a eclosão das
disputas das facções em 2013, as atrocidades
e brutalidades cometidas só ganharam reper-
cussão mundial com o relatório da Comissão
das Nações Unidas sobre Direitos Humanos
atuante no território sul-sudanês através da
Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul
(MINUSS) desde a independência do país.
Esse relatório denunciou os padrões de cri-
mes de combates das facções decorrentes
contra
inúmeras mulheres sul-sudanesas.
Das quase 180 vítimas que tiveram
seus casos documentados, 64 eram menores
de idade. Entre as meninas e adolescentes,
50 foram violentadas. Os relatos das sobrevi-
ventes descrevem níveis alarmantes de bru-
talidade cerca de 87% das vítimas de estupro
foram atacadas por mais de um agressor e
violentadas muitas vezes por várias horas. O
levantamento feito pelas Nações Unidas traz
diversos apontamentos como, por exemplo,
o caso de duas mulheres que caíram numa
emboscada e foram levadas por dois homens.
Os criminosos as amarraram numa árvore por
oito horas e as estupraram repetidas vezes.
Os atos hediondos não são realizados
apenas por facções e milícias do Sudão do Sul.
Existem denúncias também de estupros e
outros atos criminosos por parte dos repre-
sentantes da ONU no país. A onda de violên-
cia que assola o país faz inúmeras vítimas e
demonstra a impunidade endêmica e a falta
de responsabilização dos agressores. Segun-
do a Comissão da ONU, que realiza diversas
investigações no país, mais de 65% das mu-
lheres e meninas no Sudão do Sul já passa-
ram por alguma violência sexual ao menos
uma vez em suas vidas. De acordo com dados
do Fundo de Emergência das Nações Uni-
das para a infância (UNICEF), uma em cada
quatro vítimas de violência sexual no país
são crianças, incluindo até meninas de sete
anos de idade. A magnitude dos abusos e es-
tupros ferem vítimas de todas faixas etárias
(desde crianças até idosas) e em
qualquer
circunstância,
ou
seja,
até mesmo as mulheres grávidas.
Mãe e filha no estado de Unidade, do Sudão do
Sul. Foto: OCHA/Jacob Zocherman
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