INTERPRESS (Junho, 2019) | Page 5

A consequência da disputa entre os dois grupos, que pode se perdurar ainda por anos, são as atrocidades as quais os civis são sub- metidos. O país vive uma espécie de limpeza étnica que é realizada por meio de atos atrozes como o estupro, incêndios, fome, assassina- tos de crianças e castrações. Em meio a esses crimes de guerra o grupo mais suscetível aos ataques são as mulheres e as crianças que so- frem com a invisibilidade e falta de proteção em meio ao conflito. As mulheres e a violência sexual sistemática A violação de direitos e da integridade físi- ca e psicológica das mulheres são crimes de guerra que ocorrem corriqueiramente du- rante os diversos ataques realizados por ambas as facções no conflito civil sul-suda- nês. Embora ocorram em ampla escala no país, completando 6 anos desde a eclosão das disputas das facções em 2013, as atrocidades e brutalidades cometidas só ganharam reper- cussão mundial com o relatório da Comissão das Nações Unidas sobre Direitos Humanos atuante no território sul-sudanês através da Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (MINUSS) desde a independência do país. Esse relatório denunciou os padrões de cri- mes de combates das facções decorrentes contra inúmeras mulheres sul-sudanesas. Das quase 180 vítimas que tiveram seus casos documentados, 64 eram menores de idade. Entre as meninas e adolescentes, 50 foram violentadas. Os relatos das sobrevi- ventes descrevem níveis alarmantes de bru- talidade cerca de 87% das vítimas de estupro foram atacadas por mais de um agressor e violentadas muitas vezes por várias horas. O levantamento feito pelas Nações Unidas traz diversos apontamentos como, por exemplo, o caso de duas mulheres que caíram numa emboscada e foram levadas por dois homens. Os criminosos as amarraram numa árvore por oito horas e as estupraram repetidas vezes. Os atos hediondos não são realizados apenas por facções e milícias do Sudão do Sul. Existem denúncias também de estupros e outros atos criminosos por parte dos repre- sentantes da ONU no país. A onda de violên- cia que assola o país faz inúmeras vítimas e demonstra a impunidade endêmica e a falta de responsabilização dos agressores. Segun- do a Comissão da ONU, que realiza diversas investigações no país, mais de 65% das mu- lheres e meninas no Sudão do Sul já passa- ram por alguma violência sexual ao menos uma vez em suas vidas. De acordo com dados do Fundo de Emergência das Nações Uni- das para a infância (UNICEF), uma em cada quatro vítimas de violência sexual no país são crianças, incluindo até meninas de sete anos de idade. A magnitude dos abusos e es- tupros ferem vítimas de todas faixas etárias (desde crianças até idosas) e em qualquer circunstância, ou seja, até mesmo as mulheres grávidas. Mãe e filha no estado de Unidade, do Sudão do Sul. Foto: OCHA/Jacob Zocherman 5