Virgindade leiloada
Uma publicação, realizada por um
usuário do Facebook no Sudão do Sul, co-
locada no ar em 25 de outubro de 2018 re-
alizava um leilão de uma garota de apenas
17 anos chamada Nyalong . O divulgador
da postagem, um dos pais da menina, pro-
curava por um cidadão de maior posses
para trocar pelo casamento da garota. A
“venda” foi efetuada para um rico empre-
sário da região, também cidadão do Sudão
do Sul. Não foi divulgado o valor da venda.
A postagem só foi retirada da rede social
em 9 de Novembro do mesmo ano, dias
após Nyalong ter sido entregue para seu
futuro marido. As precárias condições de
vida no país estimulam as famílias a come-
terem tal crime. Além disso, os pais acre-
ditam que suas filhas, mesmo compradas,
terão uma vida melhor depois da transação.
A publicação viralizou no Sudão do Sul
e alcançou repercussão mundial ganhando
diversas represálias por se tratar de
um casamento infantil e de tráfico hu-
mano - a idade legal para o casamen-
to no Sudão do Sul é de 18 anos,
porém 52% das meninas são casadas an-
tes, de acordo com a Girls not Brides.
Monica Adhiue, da Aliança Nacional
para Mulheres Advogadas do Sudão do Sul,
descreveu o leilão como chocante e triste.
“A prática é uma grave violação dos direitos
humanos e viola os direitos de uma menina.
Ela não apenas priva a menina da educação e
limita oportunidades futuras em sua vida,
mas também aumenta o risco de violência,
prejudica sua saúde, reduz a menina a uma
propriedade, e priva-a do direito de escolher
“, disse ela ao South Sudan in Focus da VOA.
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Mulheres que fugiram da área de combate
fazem fila para receber comida em Bentiu-
Foto: Kate Holt/ Unicef
Denúncias
Diversos são os casos de violência
de gênero ocorridos no Sudão do Sul. Ape-
sar de nem todos serem denunciados, na
primeira metade de 2018 cerca de 2.300
casos haviam sido identificados, sendo a
maioria contra mulheres jovens e crianças.
Todavia, entre novembro e dezembro do
ano passado em apenas 12 dias, cerca de 150 me-
ninas e mulheres foram em busca de ajuda de-
nunciando os estupros sofridos por elas. Segun-
do a Unmiss o acontecimento se deu próximo a
segunda maior cidade sul-sudanesa, Bentiu,
enquanto essas mulheres e meninas iam a pé
de seus vilarejos até a cidade. Os abusos, se-
gundo relatos, foram realizados por jovens
com uniformes militares. As vítimas foram
atacadas com bastões e armas, além de terem
sido retirados suas roupas, sapatos, cartões de
comida e dinheiro.
Impunidade
Diversos especialistas apontam a falta de
responsabilização e condenação dos criminosos
e violadores dos direitos humanos, como fator
constituinte para o agravamento do conflito atual.
O relatório conclui que somente será
possível haver paz sustentável no país mediante
à um julgamento e prestação de contas na jus-
tiça. Para isso é necessário que o governo sul-
-sudanês e a comunidade internacional adotem
medidas urgentes para o fim da “normatização”
das violências e hostilidades presentes no país.