INTERPRESS (Junho, 2019) | Page 6

Virgindade leiloada Uma publicação, realizada por um usuário do Facebook no Sudão do Sul, co- locada no ar em 25 de outubro de 2018 re- alizava um leilão de uma garota de apenas 17 anos chamada Nyalong . O divulgador da postagem, um dos pais da menina, pro- curava por um cidadão de maior posses para trocar pelo casamento da garota. A “venda” foi efetuada para um rico empre- sário da região, também cidadão do Sudão do Sul. Não foi divulgado o valor da venda. A postagem só foi retirada da rede social em 9 de Novembro do mesmo ano, dias após Nyalong ter sido entregue para seu futuro marido. As precárias condições de vida no país estimulam as famílias a come- terem tal crime. Além disso, os pais acre- ditam que suas filhas, mesmo compradas, terão uma vida melhor depois da transação. A publicação viralizou no Sudão do Sul e alcançou repercussão mundial ganhando diversas represálias por se tratar de um casamento infantil e de tráfico hu- mano - a idade legal para o casamen- to no Sudão do Sul é de 18 anos, porém 52% das meninas são casadas an- tes, de acordo com a Girls not Brides. Monica Adhiue, da Aliança Nacional para Mulheres Advogadas do Sudão do Sul, descreveu o leilão como chocante e triste. “A prática é uma grave violação dos direitos humanos e viola os direitos de uma menina. Ela não apenas priva a menina da educação e limita oportunidades futuras em sua vida, mas também aumenta o risco de violência, prejudica sua saúde, reduz a menina a uma propriedade, e priva-a do direito de escolher “, disse ela ao South Sudan in Focus da VOA. 6 Mulheres que fugiram da área de combate fazem fila para receber comida em Bentiu- Foto: Kate Holt/ Unicef Denúncias Diversos são os casos de violência de gênero ocorridos no Sudão do Sul. Ape- sar de nem todos serem denunciados, na primeira metade de 2018 cerca de 2.300 casos haviam sido identificados, sendo a maioria contra mulheres jovens e crianças. Todavia, entre novembro e dezembro do ano passado em apenas 12 dias, cerca de 150 me- ninas e mulheres foram em busca de ajuda de- nunciando os estupros sofridos por elas. Segun- do a Unmiss o acontecimento se deu próximo a segunda maior cidade sul-sudanesa, Bentiu, enquanto essas mulheres e meninas iam a pé de seus vilarejos até a cidade. Os abusos, se- gundo relatos, foram realizados por jovens com uniformes militares. As vítimas foram atacadas com bastões e armas, além de terem sido retirados suas roupas, sapatos, cartões de comida e dinheiro. Impunidade Diversos especialistas apontam a falta de responsabilização e condenação dos criminosos e violadores dos direitos humanos, como fator constituinte para o agravamento do conflito atual. O relatório conclui que somente será possível haver paz sustentável no país mediante à um julgamento e prestação de contas na jus- tiça. Para isso é necessário que o governo sul- -sudanês e a comunidade internacional adotem medidas urgentes para o fim da “normatização” das violências e hostilidades presentes no país.