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A violência sexual sistemática contra as
mulheres no Sudão do Sul
Os abusos e violências sofridas por mulheres em meio aos conflitos no
Sudão do Sul
Por Gabriele Samara e Nathália Araújo
Implantada pelas potências ocidentais
durante o processo de colonialismo do Sudão,
assim como na maior parte da África, as fron-
teiras artificiais trouxeram profundas crises
políticas ao país - as quais culminaram em um
conflito histórico, responsável pela divisão do
país em Norte e Sul. Essa divisão foi marca-
da por duas grandes guerras civis: a primeira
começou em 1955 e durou até 1972, instiga-
da pelas revoltas do Sul, onde predomina o
cristianismo e animismo, contra a imposição
de uma convergência islâmica em todo o país.
Embora concedida pelo norte, a auto-
nomia da parte sul foi suspendida em 1983
resultando na segunda guerra civil do país
que durou 22 anos. Com mais de 1,5 milhão
de pessoas mortas e mais de 4 milhões deslo-
cadas durante o conflito, em 2005 foi firma-
do um acordo de paz pelo chefe dos rebeldes
do sul. O sul realizou, então, um referendo
para decidir sobre a independência da região
e com 98,83% dos sudaneses à favor da se-
paração do Sudão, foi criado em 2011 o mais
novo país do mundo. Todavia, os conflitos não
cessaram: ainda existem disputas pela defini-
ção das fronteiras devido a localização das re-
servas de petróleo e das refinarias, das quais
os dois países dependem economicamente.
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Sudão do Sul nasce com condições
humanas desastrosas
Diante desse cenário conflituo-
so presente no Sudão do Sul, a população
se encontra em condições sub-humanas:
fome, subnutrição e ataques à integridade
física dos civis fazem parte do cotidiano.
Segundo dados divulgados pela ONU, cer-
ca de 100 mil pessoas passam fome no país
e mais da metade da população não possui
acesso a alimentos a um preço justo. Além
disso, a taxa de alfabetização é extrema-
mente baixa, onde menos de um quarto da
população sabe ler e escrever. Parte do pro-
blema se deve ao fato de que mais de 70%
dos cidadãos já nasceram em meio a guer-
ra. Ademais, a economia do país se encon-
tra em frangalhos, fazendo com que a in-
flação anual seja alta, chegando até a 800%.
Do ponto de vista político, o Sudão do Sul
vive uma guerra interna com embate entre
facções do exército, tendo o apoio de milí-
cias. Esses combates tem como consequên-
cia massacres com caráter étnico, visto que
uma tensão entre o grupo dos dinkas (15%
da população) e dos nuer (10% da popula-
ção) existe e é representada pelo presidente
do país Salva Kiir, pertencente aos dinkas,
e pelo seu ex vice Riek Machar, pertencen-
te aos nier. A disputa entre os dois começa
quando o presidente Kiir acusa Machar de
tramar contra o Estado e o destitui do cargo.