INTERPRESS (Junho, 2019) | Seite 4

saiba mais: IGAD+ A violência sexual sistemática contra as mulheres no Sudão do Sul Os abusos e violências sofridas por mulheres em meio aos conflitos no Sudão do Sul Por Gabriele Samara e Nathália Araújo Implantada pelas potências ocidentais durante o processo de colonialismo do Sudão, assim como na maior parte da África, as fron- teiras artificiais trouxeram profundas crises políticas ao país - as quais culminaram em um conflito histórico, responsável pela divisão do país em Norte e Sul. Essa divisão foi marca- da por duas grandes guerras civis: a primeira começou em 1955 e durou até 1972, instiga- da pelas revoltas do Sul, onde predomina o cristianismo e animismo, contra a imposição de uma convergência islâmica em todo o país. Embora concedida pelo norte, a auto- nomia da parte sul foi suspendida em 1983 resultando na segunda guerra civil do país que durou 22 anos. Com mais de 1,5 milhão de pessoas mortas e mais de 4 milhões deslo- cadas durante o conflito, em 2005 foi firma- do um acordo de paz pelo chefe dos rebeldes do sul. O sul realizou, então, um referendo para decidir sobre a independência da região e com 98,83% dos sudaneses à favor da se- paração do Sudão, foi criado em 2011 o mais novo país do mundo. Todavia, os conflitos não cessaram: ainda existem disputas pela defini- ção das fronteiras devido a localização das re- servas de petróleo e das refinarias, das quais os dois países dependem economicamente. 4 Sudão do Sul nasce com condições humanas desastrosas Diante desse cenário conflituo- so presente no Sudão do Sul, a população se encontra em condições sub-humanas: fome, subnutrição e ataques à integridade física dos civis fazem parte do cotidiano. Segundo dados divulgados pela ONU, cer- ca de 100 mil pessoas passam fome no país e mais da metade da população não possui acesso a alimentos a um preço justo. Além disso, a taxa de alfabetização é extrema- mente baixa, onde menos de um quarto da população sabe ler e escrever. Parte do pro- blema se deve ao fato de que mais de 70% dos cidadãos já nasceram em meio a guer- ra. Ademais, a economia do país se encon- tra em frangalhos, fazendo com que a in- flação anual seja alta, chegando até a 800%. Do ponto de vista político, o Sudão do Sul vive uma guerra interna com embate entre facções do exército, tendo o apoio de milí- cias. Esses combates tem como consequên- cia massacres com caráter étnico, visto que uma tensão entre o grupo dos dinkas (15% da população) e dos nuer (10% da popula- ção) existe e é representada pelo presidente do país Salva Kiir, pertencente aos dinkas, e pelo seu ex vice Riek Machar, pertencen- te aos nier. A disputa entre os dois começa quando o presidente Kiir acusa Machar de tramar contra o Estado e o destitui do cargo.