INTERPRESS (Junho, 2019) | Page 32

saiba mais: MUNDI PRESS O mundo em preto e branco Contando a história de Sebastião Salgado Por Ana Laura Hott e Vítor Fróis Brasileiro, fotógrafo amador nas horas vagas, exilado de seu país natal por opção po- lítica, doutor em economia pela Escola Nacio- nal de Estatísticas Econômicas, funcionário da Organização Internacional do Café (OIC), em Londres, está no ponto mais alto de sua carrei- ra, aos 28 anos, quando recebe uma proposta praticamente irrecusável para trabalhar em um dos maiores centros econômicos do planeta, o Banco Mundial, em Washington D.C. Diante disso, contata o presidente da OIC para infor- má-lo sobre sua decisão: estava abandonando o cargo; mas não iria para o Banco Mundial. A decisão tomada por Sebastião Sal- gado na década de 70 de trocar o posto em uma importante organização econômica pela carreira de fotógrafo profissional influenciou na formação de um dos maiores expoentes da arte fotográfica no país. Um profissional que, em seus cliques, eternizou lugares, pes- soas e nos fez refletir sobre nossa organiza- ção social, econômica e política: nossa vida. Sebastião Salgado, apreciando sua obra intitulada Genesis. Fonte: Sebastião Salgado. 32 O começo de uma história Nascido em 8 de fevereiro de 1944 no pequeno município de Aimorés - região cober- ta pela Mata Atlântica - no interior de Minas Gerais, Sebastião cresceu junto a uma comuni- dade composta por cerca de outras 35 famílias em uma mesma fazenda. Aos 15 anos, saiu de casa e se mudou para Vitória para terminar o Ensino Médio. Foi uma revolução na vida do menino que mal conhecia o rádio e na ocasião veio a descobrir o telefone. Ao concluir o úl- timo ano, por influência do pai, ingressou no curso de Direito, mas não chegou a se formar. Com a eleição de Juscelino Kubits- chek, que governou de 1956 a 1961, o pre- sidente que acelerou o país e fez com que a nação se desenvolvesse com vigor, a econo- mia passou a crescer rapidamente, aumen- tando o interesse dos jovens da época pela área econômica. Sebastião, não indiferente à situação, decidiu seguir essa profissão e in- gressou no curso de Economia. Nessa mes- ma época, conheceu e apaixonou-se por Lélia Wanick, estudante do último ano do ensino médio, com quem se uniu e está casado há mais de 45 anos. Com a chegada do gover- no João Goulart, os grandes polos industriais começavam a surgir e as cidades estavam se industrializando muito rápido. Juntamente a companheira, Sebastião começou a observar como surgia a pobreza em um sistema capi- talista que se desenvolvia. Acostumado com a fartura e a vida em comunidade da fazen- da de onde veio, o jovem se estranhou com tamanha desigualdade em seu novo mundo.