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O mundo em preto e branco
Contando a história de Sebastião Salgado
Por Ana Laura Hott e Vítor Fróis
Brasileiro, fotógrafo amador nas horas
vagas, exilado de seu país natal por opção po-
lítica, doutor em economia pela Escola Nacio-
nal de Estatísticas Econômicas, funcionário da
Organização Internacional do Café (OIC), em
Londres, está no ponto mais alto de sua carrei-
ra, aos 28 anos, quando recebe uma proposta
praticamente irrecusável para trabalhar em um
dos maiores centros econômicos do planeta, o
Banco Mundial, em Washington D.C. Diante
disso, contata o presidente da OIC para infor-
má-lo sobre sua decisão: estava abandonando
o cargo; mas não iria para o Banco Mundial.
A decisão tomada por Sebastião Sal-
gado na década de 70 de trocar o posto em
uma importante organização econômica pela
carreira de fotógrafo profissional influenciou
na formação de um dos maiores expoentes
da arte fotográfica no país. Um profissional
que, em seus cliques, eternizou lugares, pes-
soas e nos fez refletir sobre nossa organiza-
ção social, econômica e política: nossa vida.
Sebastião Salgado, apreciando sua obra intitulada
Genesis. Fonte: Sebastião Salgado.
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O começo de uma história
Nascido em 8 de fevereiro de 1944 no
pequeno município de Aimorés - região cober-
ta pela Mata Atlântica - no interior de Minas
Gerais, Sebastião cresceu junto a uma comuni-
dade composta por cerca de outras 35 famílias
em uma mesma fazenda. Aos 15 anos, saiu de
casa e se mudou para Vitória para terminar o
Ensino Médio. Foi uma revolução na vida do
menino que mal conhecia o rádio e na ocasião
veio a descobrir o telefone. Ao concluir o úl-
timo ano, por influência do pai, ingressou no
curso de Direito, mas não chegou a se formar.
Com a eleição de Juscelino Kubits-
chek, que governou de 1956 a 1961, o pre-
sidente que acelerou o país e fez com que a
nação se desenvolvesse com vigor, a econo-
mia passou a crescer rapidamente, aumen-
tando o interesse dos jovens da época pela
área econômica. Sebastião, não indiferente à
situação, decidiu seguir essa profissão e in-
gressou no curso de Economia. Nessa mes-
ma época, conheceu e apaixonou-se por Lélia
Wanick, estudante do último ano do ensino
médio, com quem se uniu e está casado há
mais de 45 anos. Com a chegada do gover-
no João Goulart, os grandes polos industriais
começavam a surgir e as cidades estavam se
industrializando muito rápido. Juntamente a
companheira, Sebastião começou a observar
como surgia a pobreza em um sistema capi-
talista que se desenvolvia. Acostumado com
a fartura e a vida em comunidade da fazen-
da de onde veio, o jovem se estranhou com
tamanha desigualdade em seu novo mundo.