INTERPRESS (Junho, 2019) | Page 19

2017, hoje considera o termo “violência obs- tétrica” inadequado e em maio de 2019 emitiu um despacho em que defende abolir o seu uso. Enquanto o Brasil invalida o termo, ou- tros países já criaram leis, como a Argentina e a Venezuela que possuem legislações desde 2007 contra essa violação. Essa ação contradi- tória do órgão de saúde brasileiro se originou da carta, Conselho Federal de Medicina, escrita por alguns médicos que se sentiram ofendidos com o mesmo. Segundo eles, existe um movi- mento organizado de algumas instituições que atribuem a culpa pelo ambiente caótico que se encontra a assistência às gestantes aos obstetras e que as ações discutidas dentro do tema não condizem com a realidade. O relator da carta, Ademar Carlos Augusto, disse que a discus- são sobre o tema veio importada de países com viés socialistas, e que o Brasil também adotou. Já para Débora Diniz, do Instituto Anis Bioética, Direitos Humanos e Gênero, essa me- dida soa como uma tentativa do governo de ne- gar a existência do problema. De acordo com ela, a retirada dessa palavra é uma tentativa do governo de silenciar a dor vivida pelas mulhe- res. E que é como cortar a liberdade de informa- ção e como as mulheres identificam esse tipo de violência, pois, é um problema de grande rele- vância em saúde pública. Diz ainda que o ideal seria discutir porque o uso do termo gera um incômodo tão grande e esclarecer que este não é dirigido a ninguém em específico, mas à si- tuação da violência obstétrica, que é estrutural. Campanhas contra a violência obstétrica Em 2014, aconteceu o caso de Adelir Go- mes, mulher brasileira que estava grávida e foi forçada pela equipe de saúde a realizar uma cesárea, contra sua vontade. Esse acon- tecimento despertou revoltas não só no Bra- sil, mas em outras partes do mundo. No Rio aconteceu a manifestação “Somos Todas Adelir — Ato Contra a Violência Obsté- trica”. As atividades, que aconteceram no Centro da cidade, incluíram panfletagem, pintura de barrigas, cartazes, cantoria, roda de dança e ainda uma vigília, com velas, flores e canto, para representar o “luto pelo precedente que esse desrespeito gerou”. O acontecido também inspirou um artigo do jornal britânico “The Guardian”, em que a doula Rebecca Schiller condena a atitude da Justiça brasileira, que concedeu a limi- nar obrigando Adelir a fazer uma cesárea. Em 2015, a revista ÉPOCA lançou a campanha #partocomrespeito nas redes so- ciais para levantar a discussão sobre os di- reitos das grávidas e suas famílias. Nesse projeto muitas mulheres deram depoimentos sobre os atos de violência que sofreram e como isso as afetou. A atriz Grazielli Mas- safera e a repórter Astrid Fontenelle posaram para campanha, demonstrando apoio à causa. A atriz Grazi Massafera posan- do para campanha #partocomrespei- to, em 2015 (Fonte: André Arruda/Época) 19