Cultura da cesárea na América Latina
No Brasil são realizadas 55,5% de ce-
sáreas ao ano na rede pública. Na rede pri-
vada, os índices são ainda mais alarmantes,
chegando a 84,6%. O Brasil só perde o posto
de líder mundial para a República Dominica-
na que no momento realiza 58,1% de cesáre-
as ao ano. Entre os 15 primeiros também se
destacam países latinos: Venezuela (52,4%),
Chile (46%), Colômbia (45,9%), Paraguai
(45,9%), Equador (45,5%), México (40,7%)
e Cuba (40,4%). A América Latina é a região
com maior taxa de cesáreas do mundo, com
uma média de 44,3% de nascimentos por ano.
Esses números excessivos de cesáreas
são vistos como epidemia pela OMS (Orga-
nização Mundial da Saúde), pois, segundo
a mesma, é recomendado uma taxa de 15%
de cesáreas ao ano por país, visto que não
existem provas de que esse parto seja favo-
rável às mulheres ou aos bebês. Esse tipo de
concepção pode acarretar hemorragias, in-
fecções e danos a órgãos internos da gestan-
te, aumentando 10 vezes a chance de óbito
dessas mulheres. Essa “cultura da cesárea”
está diretamente ligada ao aumento de re-
cém-nascidos prematuros, podendo gerar
neles riscos de complicações respiratórias e
até mesmo de sobrepeso e obesidade infan-
til e, quando adultos, diabetes e hipertensão.
Sequelas físicas e psicológicas
Um caso muito comum desses abusos médi-
cos é a episiotomia, um procedimento cirúr-
gico que corta o músculo entre a vagina e o
ânus para ajudar na retirada da criança duran-
te o parto normal. Essa prática pode provocar
diversos problemas, como incontinência uri-
nária e intestinal, e a dispareunia, que é uma
dor intensa durante o sexo. Esta última é a
sequela mais grave do processo, pois afeta
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diretamente a vida sexual da mulher e pode
resultar em problemas psicológicos graves.
Gestantes que sofreram agressões ver-
bais e físicas possuem dificuldades para se
adaptar e podem ocasionar complicações no
funcionamento da relação mãe-bebê. Podem
desenvolver transtornos depressivos, como de-
pressão pós-parto, disforia puerperal provocan-
do sintomas de choro, alterações de humor, sen-
sibilidade excessiva de rejeição, interferindo
assim na funcionalidade da mulher em relação
às atividades rotineiras. Apresentam também
chances de originar transtorno de ansiedade,
alguns tipos de fobias e compulsão alimentar.
Como o tema tem sido abordado no Brasil?
No Brasil, esforços institucionais foram
empreendidos pelo Ministério da Saúde ao lon-
go dos anos no sentido de melhorar a assistên-
cia obstétrica e neonatal em todo o país, assim
como na melhoria das condições de vida das
mulheres, através da incorporação da perspec-
tiva de gênero nas análises epidemiológicas e
no planejamento das ações em saúde em 2014.
Desde os anos 2000 foi proposta e ins-
tituída uma série de programas e políticas em
saúde, entre os quais: o Programa de Humani-
zação do Parto e Nascimento, a Política Nacio-
nal de Humanização (HumanizaSUS), a Políti-
ca de Atenção Integral à Saúde da Mulher, entre
outros. Em 2011, foi instituída a Rede Cego-
nha, buscando assegurar o direito ao planeja-
mento reprodutivo e à atenção humanizada à
gravidez, ao parto e ao puerpério, com objetivo
de estimular a implementação de novo mode-
lo de atenção à saúde da mulher e da criança,
desde o parto até os 24 meses de vida, assim
como reduzir a mortalidade materna e infantil.
O Ministério da Saúde, que havia abraçado as
campanhas de conscientização sobre o tema,
publicando inclusive notas no blog da saúde em