INTERPRESS (Junho, 2019) | Page 18

Cultura da cesárea na América Latina No Brasil são realizadas 55,5% de ce- sáreas ao ano na rede pública. Na rede pri- vada, os índices são ainda mais alarmantes, chegando a 84,6%. O Brasil só perde o posto de líder mundial para a República Dominica- na que no momento realiza 58,1% de cesáre- as ao ano. Entre os 15 primeiros também se destacam países latinos: Venezuela (52,4%), Chile (46%), Colômbia (45,9%), Paraguai (45,9%), Equador (45,5%), México (40,7%) e Cuba (40,4%). A América Latina é a região com maior taxa de cesáreas do mundo, com uma média de 44,3% de nascimentos por ano. Esses números excessivos de cesáreas são vistos como epidemia pela OMS (Orga- nização Mundial da Saúde), pois, segundo a mesma, é recomendado uma taxa de 15% de cesáreas ao ano por país, visto que não existem provas de que esse parto seja favo- rável às mulheres ou aos bebês. Esse tipo de concepção pode acarretar hemorragias, in- fecções e danos a órgãos internos da gestan- te, aumentando 10 vezes a chance de óbito dessas mulheres. Essa “cultura da cesárea” está diretamente ligada ao aumento de re- cém-nascidos prematuros, podendo gerar neles riscos de complicações respiratórias e até mesmo de sobrepeso e obesidade infan- til e, quando adultos, diabetes e hipertensão. Sequelas físicas e psicológicas Um caso muito comum desses abusos médi- cos é a episiotomia, um procedimento cirúr- gico que corta o músculo entre a vagina e o ânus para ajudar na retirada da criança duran- te o parto normal. Essa prática pode provocar diversos problemas, como incontinência uri- nária e intestinal, e a dispareunia, que é uma dor intensa durante o sexo. Esta última é a sequela mais grave do processo, pois afeta 18 diretamente a vida sexual da mulher e pode resultar em problemas psicológicos graves. Gestantes que sofreram agressões ver- bais e físicas possuem dificuldades para se adaptar e podem ocasionar complicações no funcionamento da relação mãe-bebê. Podem desenvolver transtornos depressivos, como de- pressão pós-parto, disforia puerperal provocan- do sintomas de choro, alterações de humor, sen- sibilidade excessiva de rejeição, interferindo assim na funcionalidade da mulher em relação às atividades rotineiras. Apresentam também chances de originar transtorno de ansiedade, alguns tipos de fobias e compulsão alimentar. Como o tema tem sido abordado no Brasil? No Brasil, esforços institucionais foram empreendidos pelo Ministério da Saúde ao lon- go dos anos no sentido de melhorar a assistên- cia obstétrica e neonatal em todo o país, assim como na melhoria das condições de vida das mulheres, através da incorporação da perspec- tiva de gênero nas análises epidemiológicas e no planejamento das ações em saúde em 2014. Desde os anos 2000 foi proposta e ins- tituída uma série de programas e políticas em saúde, entre os quais: o Programa de Humani- zação do Parto e Nascimento, a Política Nacio- nal de Humanização (HumanizaSUS), a Políti- ca de Atenção Integral à Saúde da Mulher, entre outros. Em 2011, foi instituída a Rede Cego- nha, buscando assegurar o direito ao planeja- mento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, com objetivo de estimular a implementação de novo mode- lo de atenção à saúde da mulher e da criança, desde o parto até os 24 meses de vida, assim como reduzir a mortalidade materna e infantil. O Ministério da Saúde, que havia abraçado as campanhas de conscientização sobre o tema, publicando inclusive notas no blog da saúde em