INTERPRESS (Junho, 2019) | Page 17

saiba mais: CNS Violência obstétrica: sequelas além do parto Um mal silenciado em meio a dores gritantes Por Sara Rodrigues e Lorrayni Maissa O que é violência obstétrica? Violência obstétrica é o nome que se dá a todo e qualquer tipo de violência praticada contra a mulher no momento do parto. Os dados da Fundação Perseu Abramo mostram que 25% das mulhe- res brasileiras são vítimas dessa violação no momento do parto ou pré-natal. Esses dados abrangem atos de desrespeito, as- sédio moral, violência física ou psicoló- gica e negligência. Essas práticas acabam deixando muitas das vítimas com seque- las e outras nem ao menos sobrevivem. Além disso, fatores como a dife- rença racial, o estrato sócio-demográfi- co, a renda e a escolaridade influenciam a percepção das usuárias sobre o atendi- mento ao parto e ao parto em si. Em al- guns serviços públicos de saúde no Brasil, onde são atendidas mulheres com baixa escolaridade e baixa renda, elas são con- sideradas sem autonomia e sem capaci- dade de decidir sobre seu corpo no parto. anestesiada, amarrada na cama, mesmo sob pro- testos, submetida a episiotomia, separada da fi- lha, largada por várias horas em uma sala sem o marido e sem informações. Seu bebê não resistiu e faleceu por causas obscuras. Ana Paula denun- ciou o falecimento de sua filha ao Ministério da Saúde pedindo uma investigação e em paralelo denunciou a equipe, convênio médico e o hospi- tal que a atenderam ao CRM de Belo Horizonte. Diante do silêncio do Conselho, que abriu uma sindicância em novembro de 2012 e não forneceu mais informações, a advogada de Ana Paula, Gabriella Sallit, entrou com uma ação na justiça. Em seu depoimento, a advogada expli- ca que não efetuou uma ação contra erro mé- dico ou pelo fim de uma conduta médica e sim contra a violência no tratar. A mesma evidencia ainda, a importância dessa ação de indenização por dano moral que lida com atos notoriamente reconhecidos como violência obstétrica (pela pri- meira vez) e ter respaldo na legislação brasileira. Quando o termo passou a ser utilizado? O termo “violência obstétrica” passou a ser usado no Brasil, após um caso muito explí- cito de abuso médico. A vítima, Ana Paula, planejava um parto natural e foi ao hospi- tal com uma complicação e, sem qualquer explicação por parte dos profissionais, foi 1:4 é um projeto fotográfico criado por Cala Raiter com algumas frases traumatizantes e depoimentos de mulhe- res que passaram por violência obstétrica. (Fonte: Sentido do Nascer) 17