INTERPRESS (Junho, 2019) | Page 12

Inicialmente possuía apenas 200 leitos. To- davia, conforme relatado por visitantes, em 1961 o local chegou a conter aproximada- men 5 mil pacientes que viviam em condi- ções desumanas. As camas foram substituídas por feno, para que coubessem mais pesso- as, a comida era escassa e muitos comiam até seus próprios dejetos para sobreviver. Viviam em meio a ratos e baratas, nus por não terem roupas para vestir, passando frio. Alguns chamavam de zoológico, mas o psiquiatra italiano Franco Basaglia, após visitar a instituição em 1979, comparou o lo- cal a um verdadeiro campo de concentração nazista. Estupros, tratamentos com choques elétricos e duchas escocesas sem nenhum motivo eram rotina dos pacientes. Cerca de 60 mil pessoas morreram até o fechamento do local na década de 80. No ano de 1996, fora reaberto como um museu, para que as gerações futuras possam se lembrar e apren- der com os erros e atrocidades do passado. Manuel Nascimento foi um das 33 crianças de Oliveira-MG a serem levadas na década de 70 para o Hospital Colônia “Eu tô com saudade do meu pai até hoje” relata. Fora abandonado pelo pai, e relata que ficou próxi- mo da morte após receber uma injeção no hos- pital. Ex-funcionários afirmam que todas as seringas eram reaproveitadas, e que uma úni- ca seringa era utilizada em vários pacientes. Manuel também relata as violências sofridas: “Batiam na gente, metiam a vara na gente, e lá na cela colocava nós pelado, sem roupa sem nada, e faziam isso com a gente atoa, eu não fa- zia arte nem nada, fazia faxina direitinho, era obrigado a fazer faxina todo dia, se não fizes- se metia o coro na gente, xingavam a gente”. Todas as crianças de Barbacena que ainda estão vivas residem atualmente no Lar Abrigado, em Belo Horizonte. A coordenado- ra Mercês Osório relata: “O Silvio, como os outros, chegou aqui imundo. Vieram para pas- sar um dia e acabaram ficando a vida inteira. Quem os recebeu ficou chocado com o estado dos vinte e tantos meninos de Bar- bacena. Aqui eles tiveram que aprender até como usar o banheiro. Fizemos todo um trabalho de resgate da cidadania, inclusive com a retirada de documentos que eles não tinham. Nenhum dos qua- tro que ainda estão vivos fala, mas a gente entende o que eles querem, inclu- sive seus gritos. O bonito de verdade é que eles não têm mais o olhar perdido.”. Silvio foi protagonista da foto histórica de Luiz Alfredo, onde aparece deitado coberto de moscas - se assemelhando a um cadáver. Fonte: O Holocausto Brasileiro 12