Inicialmente possuía apenas 200 leitos. To-
davia, conforme relatado por visitantes, em
1961 o local chegou a conter aproximada-
men 5 mil pacientes que viviam em condi-
ções desumanas. As camas foram substituídas
por feno, para que coubessem mais pesso-
as, a comida era escassa e muitos comiam
até seus próprios dejetos para sobreviver.
Viviam em meio a ratos e baratas, nus por
não terem roupas para vestir, passando frio.
Alguns chamavam de zoológico, mas
o psiquiatra italiano Franco Basaglia, após
visitar a instituição em 1979, comparou o lo-
cal a um verdadeiro campo de concentração
nazista. Estupros, tratamentos com choques
elétricos e duchas escocesas sem nenhum
motivo eram rotina dos pacientes. Cerca de
60 mil pessoas morreram até o fechamento
do local na década de 80. No ano de 1996,
fora reaberto como um museu, para que as
gerações futuras possam se lembrar e apren-
der com os erros e atrocidades do passado.
Manuel Nascimento foi um das 33
crianças de Oliveira-MG a serem levadas na
década de 70 para o Hospital Colônia “Eu tô
com saudade do meu pai até hoje” relata. Fora
abandonado pelo pai, e relata que ficou próxi-
mo da morte após receber uma injeção no hos-
pital. Ex-funcionários afirmam que todas as
seringas eram reaproveitadas, e que uma úni-
ca seringa era utilizada em vários pacientes.
Manuel também relata as violências sofridas:
“Batiam na gente, metiam a vara na gente, e
lá na cela colocava nós pelado, sem roupa sem
nada, e faziam isso com a gente atoa, eu não fa-
zia arte nem nada, fazia faxina direitinho, era
obrigado a fazer faxina todo dia, se não fizes-
se metia o coro na gente, xingavam a gente”.
Todas as crianças de Barbacena que
ainda estão vivas residem atualmente no Lar
Abrigado, em Belo Horizonte. A coordenado-
ra Mercês Osório relata: “O Silvio, como os
outros, chegou aqui imundo. Vieram para pas-
sar um dia e acabaram ficando a vida inteira.
Quem os recebeu ficou chocado com o
estado dos vinte e tantos meninos de Bar-
bacena. Aqui eles tiveram que aprender
até como usar o banheiro. Fizemos todo
um trabalho de resgate da cidadania,
inclusive com a retirada de documentos
que eles não tinham. Nenhum dos qua-
tro que ainda estão vivos fala, mas a
gente entende o que eles querem, inclu-
sive seus gritos. O bonito de verdade é
que eles não têm mais o olhar perdido.”.
Silvio foi protagonista da foto histórica de Luiz Alfredo, onde
aparece deitado coberto de moscas - se assemelhando a um
cadáver. Fonte: O Holocausto Brasileiro
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