Informativo ABECO nº11 | Page 12

Foto : Rosana Mazzoni
INFORMATIVO ABECO | Edição N º 11 12
bolsistas produtividade em pesquisa do CNPq , um dos termômetros de excelência científica no Brasil , considerando os pesquisadores que atuam na área de Ecologia , apenas 32 % são mulheres . Subindo os degraus de bolsistas 2 ( onde 33 % são mulheres ) até bolsistas 1A ( onde incríveis 9 % são mulheres !), o impacto é tão grande , que é quase “ um milagre ” uma mulher chegar neste estágio de excelência da carreira científica .
O que explica este fenômeno de perda de mulheres ao longo desta “ trilha ” acadêmica ? Certamente todos sabem muito bem que as condições intelectuais e a capacidade criativa na ciência são as mesmas entre mulheres e homens . Também sabem que não há nas estruturas acadêmicas , pelo menos nas oficiais , nenhum mecanismo para proibir mulheres de concorrerem aos melhores postos . A explicação , na
minha opinião , está nos diversos obstáculos que ocorrem ao longo da trilha , que acabam impedindo a permanência e ascensão das mulheres na carreira científica . Especificamente para cientistas ecólogas , os primeiros obstáculos começam no convencimento da família que , sim , é possível uma mulher escolher uma profissão recheada de esforço físico , intelectual e riscos . Ao final da graduação , são materializados na evasão das bancadas de laboratório , provocada por motivos que incluem gravidez , aborto ou a falta de apoio dos familiares para que se invista em uma carreira científica . Vencidas estas etapas , poucas mulheres sentem-se realmente capazes de perseguir uma carreira de cientista , empírica ou teórica , também por questões culturais incutidas desde a infância ( afinal , carreiras que demandam pensar , competir e dedicarse visceralmente não são vislumbradas para meninas ). Na pós-graduação e na profissão , ecólogas e outras jovens cientistas deparam-se com realidades pouco amigáveis : pouca sensibilidade da academia sobre o seu planejamento familiar , falta de estrutura dos congressos e universidades para abrigar a maternidade , pressões familiares para se adaptar às necessidades dos parceiros , entre outros . Os obstáculos se sucedem , mas a carreira tem que se manter funcionando ! Cientistas mulheres são pouco “ lembradas ” nas palestras magnas , nas coordenações de programas de maior envergadura e nas editorias de revistas . Pese a isso a falácia da meritocracia , tão ineficiente para corrigir distorções , quanto subterfúgio dos que cultivam preconceitos , impedindo o empoderamento de minorias . Isso tudo sem contar os assédios , nas coletas de campo ou nos corredores das universidades , em todas as etapas da trilha .
Não é trivial conseguir sobreviver aos obstáculos que permeiam a trajetória de uma ecóloga cientista . Muitas desistem , poucas chegam ao topo . Uma realidade que o mundo acadêmico precisa compreender , antes de aplaudir as conquistas parciais e dar a causa como ganha .