INFORMATIVO ABECO | Edição Nº 11
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OPINIÃO
Ser ecóloga e mulher no Brasil:
uma trilha com muitos obstáculos
por Márcia C. M. Marques
Professora Associada da Universidade Federal do Paraná – UFPR
No dia 8 de março é
celebrado, mundialmente, o
Dia da Mulher, um bom
momento para refletir o
espaço
ocupado
pelas
mulheres
na
ciência
ecológica. Acompanhando
um
reaquecimento
do
movimento feminista que
ocorreu nos últimos cinco
anos em diversos setores da
sociedade, também houve
uma
proliferação
de
discussões, virtuais e físicas,
grupos
de
estudos,
colóquios, palestras e outros
eventos que trouxeram a
temática para os espaços
acadêmicos. De início, visto
com desconfiança, estes
movimentos foram, aos
poucos, atraindo militantes,
mulheres
e
homens,
resultando em mudanças de
posturas
em
alguns
segmentos
das
universidades,
das
sociedades científicas e de
outros espaços acadêmicos.
Várias
femininas
conquistas
na
ciência
começaram
a
aparecer
nestes
últimos
anos,
certamente fortalecidas pelo
movimento feminista na
ciência. Por exemplo, um
estudo sobre gêneros na
ciência,
recentemente
realizado pela prestigiosa
editora científica Elsevier,
revelou que o Brasil é o líder
mundial na equidade de
gêneros no número de
autores de artigos científicos.
Além disso, várias cientistas
brasileiras
receberam
prêmios
internacionais,
outras despontaram com sua
atuação em segmentos
específicos
da
ciência,
alcançando destaque na
mídia
e
nos
círculos
acadêmicos.
Ou
seja,
mulheres cientistas hoje são
vistas e respeitadas, certo?
Minha resposta é: errado.
Talvez a história ainda não
seja tão cor-de-rosa assim.
Uma busca rápida
pelos registros oficiais das
agências
de
ciência,
tecnologia e educação no
Brasil e algumas publicações
científicas
que
se
debruçaram sobre isso, nos
revela
alguns
dados
intrigantes. As mulheres são
maioria nos cursos de
graduação e nas pós-
graduações, especialmente
na área biológica, onde
chegam a representar até
mais de 55%. Considerando
as mulheres que seguiram na
academia, elas também
predominam nos postos da
maioria das universidades.
No entanto, quando olhamos
alguns
setores
mais
privilegiados da academia, os
números são outros. Por
exemplo, uma das palestras
de nossa última reunião da
ABECO mostrou que a
proporção de mulheres e
homens orientadores em
cursos de pós-graduação em
Ecologia, em geral, pesa para
o lado masculino. Entre os