Outra maneira igualmente marcante de encarar o problema do espaço foi trabalhada por John Constable (1776-1851). Em suas pinturas, Constable parte do mesmo tema inicial de Turner (as paisagens naturais) para retirar daí uma solução inteiramente diversa. Constable se lança numa busca pela “verdade” das representações. Para tanto, ele rompe com os esquemas cromáticos tradicionais e descarta conscientemente as soluções fáceis consagradas pela pintura acadêmica. Assim, Constable, em seus esboços, procura analisar cada mancha, cada notação colorida, que, em seu conjunto, formará o campo espacial como um todo. Seu instrumento privilegiado nesta tarefa não é a formação nas academias, ou seja, uma série de conhecimentos prévios aplicáveis, mas o seu olho, a sua capacidade de observar. Trata-se de uma tendência que será desdobrada no continente pelos impressionistas franceses e, sobretudo por Cézanne. Na Inglaterra, contudo, Constable não logrou o mesmo sucesso de público obtido por Turner.
Aliás, o panorama artístico da Inglaterra em meados do século XIX, em termos quantitativos, pode ser caracterizado como conservador. É o auge do “compromisso vitoriano”, uma espécie de pacto silencioso entre as prósperas elites dirigentes, cujas bases ideológicas eram forjadas a partir do liberalismo e do utilitarismo, usados muitas vezes para relativizar a dura realidade observada nas cidades inglesas sob o impacto da revolução industrial. Tratava-se, com efeito, de uma sociedade marcada pela exploração intensiva do trabalho e o conseqüente empobrecimento dos operários. Tal pobreza, para além das carências ligadas à reprodução material da vida, tocava diretamente as experiências cotidianas dos trabalhadores, agora obrigados a operar máquinas que lhe eram estranhas, abandonando, paulatinamente, as práticas vivas ligadas ao trabalho artesanal.
É sob o peso deste diagnóstico sombrio que, em meados do século XIX (1848), surge a Irmandade dos Pré-Rafaelitas. Formada inicialmente por três pintores: Holman Hunt (1827-1910), John Everett Millais (1826-1896) e Dante Gabriel Rossetti (1828-1882), todos eles estavam unidos sob a bandeira defendida pelo crítico de arte John Ruskin (1819-1900), para quem a arte estava ameaçada pelo desenvolvimento da sociedade industrial. O verdadeiro artista moderno, segundo Ruskin, deveria lutar pela transformação dos rumos da modernidade, sob o risco de desaparecer, soterrado por uma sociedade industrial orientada por uma organização técnico-racional, para a qual os artistas seriam figuras ultrapassadas. Do ponto de vista estético, a arte moderna deveria deixar de lado a mera contemplação das coisas ou a mera cópia da natureza baseada nos cânones do renascimento desde Rafael. Como anuncia o próprio nome da irmandade, o artista precisaria retomar o elo com os artistas medievais, que, supostamente sentiriam mais diretamente a exuberância das criações divinas.
Mas, seriam as belas-artes o único caminho para o encontro com o sublime e para a alteração da sociedade industrial? O pintor, poeta e polemista William Morris (1834-1896) diria que não. Pois, partindo do legado dos Pré-Rafaelitas, concluí que a natureza, ao contrário da mentalidade utilitarista então reinante, é divina, e o homem enquanto parte