IFSP Jundiaí 1º Semestre de 2017 | Page 6

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desta mesma natureza é um agente ativo nesta comunhão, conseqüentemente o trabalho humano, nas suas atividades mais simples ganham importância enquanto elemento privilegiado para a alteração da realidade. Aqui, não se trataria de transformar o artista em artesão, mas antes compreender o trabalho do artesão como eminentemente artístico, afastando a ameaça mais do que presente da alienação característica do trabalho industrial. Esta afirmação de uma arte que assume um papel ativo na sociedade é uma atitude de enorme ressonância, cujos ecos serão ouvidos pelas vanguardas modernistas do inicio século XX.

Morris, com efeito, não se contentou apenas em enunciar o novo desígnio da arte. Juntamente com outros artistas como E. Burne-Jones (1833-1898), W. Crane (1845-1915) e A.H. Mackmurdo (1851-1942), fundou uma empresa encarregada de produzir peças de mobiliário e decoração a baixo preço e com qualidade artesanal. Era uma tentativa aberta de desafiar os grandes monopólios de fabricação massificada de objetos. Esta iniciativa, bem sucedida, inclusive do ponto de vista comercial, seria o primeiro passo daquilo que mais tarde seria conhecido no continente como Art Nouveau.

Se fosse possível sintetizar os desenvolvimentos da arte inglesa do século XIX em um único pintor, ele atenderia pelo nome de James Mcneill Whistler (1834-1903). Este americano residente em Londres foi dono de uma trajetória complexa. Travou conhecimento com os Pré-Rafaelitas (inclusive movendo um processo judicial contra Ruskin por difamação), expôs no Salão dos Recusados com Manet e com os “pintores malditos” da França, além de conhecer as idéias de Morris e dos impressionistas. Suas últimas telas evocam paisagens naturais, tais como as Constable e Turner, mas seu uso das cores evoca uma poética inspirada em Mallarmé. Em suas telas, as cores não dependem de qualquer impressão visual, nem de uma imagem mental, são antes testemunhos de uma correspondência fugaz entre pessoa e universo, de uma continuidade quase mística do todo. Assim, o rio é prateado, a noite é o azul, as luzes noturnas são o dourado, tudo perfeitamente harmônico e ao mesmo tempo fugidio.

Considerando essas manifestações, a arte inglesa dá testemunho de algumas tendências que serão desdobradas por todo o continente europeu e principalmente na França. Gradativamente as artes plásticas procuram conquistar certo grau de autonomia dentro do universo de práticas de uma dada sociedade. Como em alguns casos vistos acima, certas manifestações artísticas adotam um posicionamento crítico em relação às outras esferas da sociedade, aqui principalmente àqueles ligados às consequências dos processos de modernização acelerada que marcaram a sociedade a partir do fim do século XVIII. Essa busca pela autonomia da arte é uma das tendências que, pelo menos do ponto de vista formal, possibilitaram o surgimento das vanguardas modernistas no principio do século XX e, por conseguinte, tornou possível à arte, pelo menos em alguns de seus melhores momentos, constituir-se como uma manifestação cultural marcada por uma crítica contundente aos desenvolvimentos contraditórios e dramáticos da modernidade.