Hatari! Revista de Cinema HATARI! #02 Teen Movies (2015) | Page 15

Soa natural contar uma história adoles- cente através de um primeiro amor devido a intensidade que ele poderia alcançar nessa transição, mas para nossos personagens, e para Crowe, esse amor é reflexo do período. Ele significa grandes mudanças internas, fí- sicas, espaciais e a busca pelo risco; ele é, de certa maneira, a primeira experiência adoles- cente de Diane Court, e para Lloyd Dobler um meio para enfrentar o mundo e encontrar a auto – definição. O sentimento de “primeira vez” nos é apresentado de maneira óbvia e leve. O plano americano que se limita a seguir os movimentos frenéticos de Lloyd nos mos- tra olhos, mãos e sobrancelhas denunciando seu nervosismo, ao lutar contra os móveis até conseguir chamar Diane para sair pela primeira vez; já menina, acostumada com as investidas sorri, morde os lábios e aceita o convite. A adolescência é naturalmente físi- ca, tanto pelas mudanças, tanto pela relação do indivíduo com o mundo. É por isso que seus corpos e gestos apontam suas intenções inocentes e sua empolgação com a nova expe- riência. Crowe respeita isso e apenas registra. Outro exemplo desse registro seria a cena em que Lloyd ensina Diane a dirigir um carro. Durante a cena, através de três planos, acompanhamos como a falta de jeito da me- nina, a postura de Lloyd e seus olhares, defi- nem a intenção do que está acontecendo e o que está para acontecer: o primeiro beijo do casal. Crowe evidencia o peso das interações, mesmo que pequenas e sutis, e cria a ambiên- cia suave que os levam ao primeiro beijo. Ain- da, quando Lloyd sugere a mudança de lugar, Crowe cria a metáfora corporal perfeita para a dança do primeiro beijo, e do começo de uma relação: o leve e agradável desconforto criado pela proximidade, pelos movimentos e pelas as intenções iniciais, está ali representado quando Lloyd e Diane tentam trocar de lugar, se olhando, sem sair do carro. E ainda nessa sequência, mas um pouco à frente na história do filme, outro exemplo do registro corporal incrível que Crowe constrói nos é apresenta- do: no final do encontro o casal está no carro e Lloyd treme e não tem a mínima noção do que fazer com as mãos. A felicidade do garoto explode em espasmos. 14 IONE SKYE (DIANE COURT) E JOHN CUSACK (LLOYD DOBLER) EM DIGAM O QUE QUISEREM (1989)