Hatari! Revista de Cinema HATARI! #02 Teen Movies (2015) | Page 16
Outra manifestação do sentimento de
primeira vez é a cena da festa de Diane. Ao
entrar, a pequena troca de olhares entre ela
e Lloyd, que é absorvido pela festa, já evi-
dencia a desconjuntara da menina. Depois
disso Lloyd e Diane se separaram e só se
encontram em olhares. Diane encara o lugar
quase como alguém que não está nele, mas
de certa maneira é também absorvida e tem
suas primeiras interações: primeiro com sua
colega “ultra competitiva” onde se agrade-
cem e admitem o bem que fizeram uma a
outra. Depois com Corey, melhor amiga de
Lloyd, da qual escuta o desabafo da meni-
na. As primeiras reais interações de Diane
com as pessoas de seu mundo acontecem
em sua primeira festa e isso nos é ressalta-
do por observamos esses momentos através
de planos próximos das pessoas com quem
Diane interage quase sem interrupções, ou
seja, interessa para Crowe nos ressaltar as
pessoas que Diane conhece e tem suas pri-
meiras experiências, lhe interessa ressaltar o
que ela vê, o que ela sente, e como essa festa
realmente se caracteriza como primeiro con-
tato com o seu mundo adolescente e todas as
pessoas ali incluídas.
Em relação ao sentimento de fatalida-
de, ele se manifesta através de duas cenas.
“I’ve glimpsed our future and all i can say
is: Go back!”, diz Diane Court para seu pai,
que ri por ver a ironia da situação. Ao repe-
tir a frase para seus colegas em um discur-
so de encerramento resta apenas o silêncio
ressaltado pelo contraplano geral da reação
de seus colegas. De certa maneira a resposta
dos jovens à piada de Diane é uma represen-
tação exata de como a dor da transição da
adolescência para o período adulto de nos-
sas vidas se constrói, pois independente de
Diane ser uma jovem muito inteligente e ter
a capacidade de entender as perdas de seu
futuro, a menina não sente e não entende a
dimensão e a extensão dessa perda, já que
não viveu sua adolescência como queria. Já
os adolescentes à sua frente, que de certa
maneira exercem sua adolescência mais li-
vremente, têm toda dimensão de sua perda,
mas não conseguem entender que a realiza-
ção do sonho de crescer, de ser “gente gran-
de” significa o sacrifício obrigatório de sua
liberdade, de sua infância, de tudo que os ca-
racteriza no momento, ou seja o sacrifício de
sua adolescência. É na mistura de confusão,
incompreensão, dor e ironia que essa repre-
sentação se estabelece, acentuada por Crowe
em cada contraplano de reação da plateia.
A própria frase de Diane já diz muito
sobre esse fim, período que muitos ali estão
passando e que ela estará vivendo no fim do
verão; na frase, na reação e na cena já está
presente a natureza crepuscular da adoles-
cência, a fatalidade do fim, a dor que sobrará.
A cena final do filme é outra que repre-
senta esse sentimento de fatalidade ou irrever-
sibilidade. Contra todas as expectativas e con-
tra todas as chances, Lloyd e Diane, em um
ato de pura coragem jovial, fogem em direção
à Inglaterra, indo para vida que os espera, a
vida adulta. O medo de voar de Diane vira
uma grande metáfora para o medo do futuro,
que a menina já explicitara no seu discurso de
enceramento, e através da tensão sentimos os
personagens deixarem para trás suas personas
do verão que passou e começamos a sentir a
expectativa de que o seu futuro funcione, a
necessidade de que a aposta em suas coragens
renda felicidade. Seja como for, a aposta foi
feita e tudo depende daquele momento, da-
quela decisão, do “ding”, e não há para onde
voltar. O movimento foi feito e as consequên-
cias podem ser fatais.
Inevitavelmente a maioria das represen-
tações da adolescência no cinema demonstra
o termino dessa fantástica experiência como
algo triste, tenso e eventualmente fatal, re-
presentando-a assim em toda sua integrida-
de, e dando voz não só a sua intensidade,
mas a irreversibilidade dessa transição final.
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