Permanece a fixação por temáticas pesadas e personagens levados a situações limite , mas se em Terje Vigen e O Fora da Lei e sua Mullher se via um olhar fixado no mundo natural , agora Sjöström se permite atravessar a superfície das coisas , estendendo seus propósitos no campo do fantástico , dando corpo a um mundo fantasmagórico através de sobreposições de imagem . Trabalhado no campo do melodrama , com questões datadas e a influência de um puritanismo cristão , poderia ser um filme esquecido , envelhecido , se fosse abordado de outra maneira . Mas , definitivamente , não é . Ver as imagens desse filme , quase 100 anos depois , me faz pensar na grandiosidade do cinema em si , nos impulsos inventivos que percorreram a mente desses moduladores de imagem .
15
em segredo
Por Yasmin Gabrielle Rahmeier Souza
PEQUENOS MILAGRES ACONTECEM
Ao rever Ordet ( Carl Theodor Dreyer , 1955 ), o que mais me aflige é não recordar os longos diálogos , lembrando apenas os rostos e os sons que ecoam durante toda a narrativa . Rever Johannes a caminho do monte para pregar pela primeira vez àqueles que assistem à obra , lembrar a maneira estranha com que ele se porta , com olhares ao chão e palavras de desapontamento proclamadas aos que cruzam o seu caminho . . Quando Ordet me vem a cabeça penso em Mikkel , em sua determinação e em seu amor explicitamente declarado por seus entes queridos , em especial Inger , sua esposa . Reavivo Morten Borgen , patriarca da família ,
16
que se arrasta e declara a mais verdadeira das tristezas ao falar sobre Johannes , seu filho do meio , e recordo o desapontamento do pai com seu filho mais novo , Anders , pelo mesmo demonstrar o desejo de casar- -se com a filha do alfaiate Petersen .
Pensar em Ordet é esquecer justamente da palavra e dar espaço ao balé de corpos em frente ao quadro . Reassistir para ter a chance de experienciar a mais bela das graças divinas e cair em prantos junto dos Borgen , ter a oportunidade de sentir a graça emanada por Inger em todos os momentos e presenciar , mesmo que de longe , a força descomunal dessa mulher sendo ecoada por toda a obra .