Hatari! Revista de Cinema #06 Cinema Nórdico | Page 26
espera que alguém a tire para dançar. É curioso que a cena não ocorra de
Após voltar sozinha para casa maneira visualmente explícita, mas
em outras ocasiões, Iris enfim é somente através do som do carro,
chamada para dançar e dorme com quando a personagem sai de qua-
o homem que conheceu. A sequên- dro. Após o corte, vemos o interior
cia não ilude o espectador com a do hospital.
expectativa de um romance: não há
flerte, paixão ou sensualidade. Tudo
acontece muito rápido. Em um ins-
tante, temos o casal dançando mú-
sica lenta, mas logo corta para o dia
seguinte, com a protagonista acor-
dando sozinha no apartamento de
seu par da noite anterior.
Em seguida, é expulsa de
casa pelos próprios pais. Ela per-
deu tudo: o filho, os pais e o lar.
Apenas o irmão, que já tinha dei-
xado a casa, continua do lado de
Iris. A consequente mudança de
vida é retratada com simplicidade,
utilizando de uma única e breve
Iris queria viver como nos ro-
mances que lê, porém o homem se
distancia e depois a rejeita, man-
tendo sua vida tão infeliz quanto
antes. A normalidade de sua rotina
permaneceria, porém a protago-
nista descobre que está grávida e o
pai exige que ela “livre-se da larva”.
Sua primeira ação imprevisí-
vel desencadeia uma sequência de
desgraças em sua vida: Iris se joga na
frente de um carro e perde o bebê.
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Por outro lado, a inexpressividade
trabalhada na personagem ajuda a
aceitar. Não apenas a motivação a
partir da dor, rejeição e infelicida-
de - afinal, uma hora ou outra Iris se
cansaria do modo como a vida vi-
nha lhe tratando -, mas era impos-
sível sequer imaginar o que se pas-
sava pela cabeça da personagem.
Uma porta fechada que escondia