A GENTE PRECISA crescer
Eu sempre achei que houvesse uma confusão quando se fala de séries de adolescente. Porque sempre distingui dois tipos dessas séries. Tem aquelas que são feitas para adolescentes e aquelas que são sobre eles. E há uma diferença bem grande entre elas. Por exemplo, quando eu tinha 14 anos, acompanhava tudo que envolvesse vampiros, magia, mistérios e intrigas no ensino médio. São séries para adolescentes. Mas também tem aquelas sobre adolescentes- as quais eu fui ver já depois de terminar a escola: Freaks and Geeks( Paul Freig, 1999-2000)- que só teve 18 episódios, infelizmente-, My Mad Fat Diary( Tom Bidwell, 2013-2015) e, mais recentemente, Skam. Esse último grupo, mesmo tendo como principal público alvo pessoas da mesma faixa etária de seus protagonistas, consegue atingir muita gente. A Noruega tem uma população de pouco mais de 5 milhões de pessoas, das quais cerca de 800 mil são adolescentes. E, semanalmente, a série conseguiu atingir em torno de 1,2mi de pessoas. Apenas na Noruega. Isso só prova que, mais que uma série para adolescentes, Skam é uma série sobre eles.
Skam fica mais popular a cada semana que eu adio a escrita desse texto. Acompanhando a vida de adolescentes do ensino médio de Oslo, seu formato de exibição é bastante interessante, como uma mistura de série de tv e websérie. Oficialmente, o episódio completo vai ao ar nas por Gabriela Quadros
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sextas feiras. Mas, durante a semana, cenas são liberadas no site da série. Então, se uma conversa acontece às 10 da manhã na escola, é nessa hora que a cena vai ser liberada. Além disso, os personagens principais têm contas nas redes sociais e suas mensagens de texto são também públicas, o que torna as coisas bastante interativas, além de aumentar a ansiedade e expectativa da legião de fãs que acompanha a série religiosamente.
Uma escolha narrativa bastante interessante é a de focar em um personagem por temporada. Na primeira temporada, vemos tudo pelos olhos de Eva, uma garota que enfrenta problemas no relacionamento com o namorado. Na segunda, seguimos Noora, que também lida com sua vida amorosa e as insistentes investidas do garoto popular à la Edward Cullen- calma, ele não é um vampiro. Na terceira temporada, focamos em Isak enquanto ele lida com a descoberta de sua sexualidade. Já na quarta e última temporada, o foco fica em Sana, uma muçulmana que não tem medo de falar o que pensa, lidando com religião, feminismo e amor.
Porém, resumir as histórias dessas personagens em duas linhas é simplista demais. Seguindo as propostas do gênero teen, muito mais do que sobre relacionamentos, amizades e drama, os arcos de cada temporada acompanham uma jornada repleta de autodescoberta,