Hatari! Revista de Cinema #06 Cinema Nórdico | Page 16
a realização de se tornar um adulto.
em um encontro brutal com
as consequências; o tiro em
Há uma entrevista com Mar-
Acossado; a explosão em O Demô-
tin Luther King Jr., fala-se sobre a
nio das Onze Horas; a renúncia
não-violência, classicismo, aborto
em A Chinesa. Há de se levar em
e contraceptivos e fala-se muito de
conta que os filmes I am curious
Franco. Há de se pensar o motivo
foram produzidos sob incentivo da
de grandes acontecimentos e ainda
Swedish Film Institute, quando
tão próximos da Suécia ficarem de
Harry Schein tentava criar uma new
fora do filme, como o Muro de Ber-
wave sueca. O que foram, dessa leva,
lim e a opressão causada pela URSS
os que tiveram maior êxito e reco-
e, a China, até porque muito se fala,
nhecimento, ainda que pouco em
no filme sobre o maoísmo. Toda a
relação ao próprio cinema sueco.
inquietude da personagem por fa-
zer algo e revolucionar o mundo
Ainda assim, não o vejo como
acabam indo para lugar nenhum, uma aspiração ou cópia e não é com
assim como o filme. Seu desespero olhar reprovador que vejo esses fil-
por elencar problemas, buscar opi- mes. A sua forma desconcertante é
niões e contestar por mudanças, o que me deixa à vontade ao vê-los,
acaba perdendo forças e as cenas fi- pois posso questionar e mudar de
nais mostram sua desistência, pelo ideia. A protagonista não usa uma
menos em relação a algumas ques- aura em seu entorno, como mui-
tões. Ela anda em direção oposta a tas musas dessa onda francesa, ela
uma manifestação, toda a sua liber- é completamente cheia de defei-
dade sexual acabou levando à sarna tos, se exalta a favor de algo depois
e o momento que pareceu um dos muda de opinião e se envergonha
mais honestos dos filmes; quando . Ela, além disso, se expõe de uma
o personagem diretor fala que ago- forma raramente vista, e não por
ra vão filmar a cena do encontro de mostrar seu corpo fora dos padrões
Lena com sua mãe e a personagem, comerciais. Mas há algo que Lena
fora das câmeras do “metafilme”, traz para o filme, que a sua presen-
corre de encontro a uma mulher. ça pesa e nos transforma, também,
Afinal, mesmo com pensamen- em curiosos.
to considerado adulto, ela ainda é
alguém tentando abraçar o mun-
do sem medir as consequências.
Essa
conclusão
também
remete à nouvelle vague de Go-
dard, movimento no qual todo o
espírito jovem, revolucionário e
confiante, acaba, muitas vezes,
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