Hatari! Revista de Cinema #06 Cinema Nórdico | Page 12
que poderia passar despercebida:
“Suas percepções não correspon-
dem com suas ações”. A frase evoca
um poder sintético essencial para
compreendermos Persona como
um filme de remissão. As próprias
ações de Alma desde o início do fil-
me são o extremo oposto de seus
reais objetivos. Se por fim, ela mes-
mo pratica uma espécie de remis-
são consigo, não é por tentar aju-
dar, e sim por tentar resolver seus
próprios problemas. O silêncio de
Vogler durante quase o filme todo
é justamente o ponto crucial: Alma
precisa de ajuda, não Vogler; Vogler
serve como ouvinte, como um Pa-
dre que escuta confissões. E o tra-
velling mencionado é justamente
a alma do filme, é a superação dos
obstáculos, que acaba levando-a
a uma solidão inconclusiva – pelo
menos nesse momento. Seus gritos
enquanto se arrasta pelo chão não
são apenas de dor e sofrimento, são
também de culpa.
Ao tomar o ônibus que
partirá, não saberemos o destino
final – caso ele exista –, porém, temos
certeza de que as máscaras foram
rompidas, a ficção e o real estão jun-
tos, estão ligados. Ela está perdoada.
A câmera se move em direção
ao chão, a película se desprende do
rolo, o filme acaba – literalmente.
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Os vikings
E A RELIGIÃO, A TRILOGIA
DE HRAFN GUNNLAUGSSON
Por Leonardo Otto
U ma B reve I ntrodução aos V ikings
Ao se propor a assistir a fil-
mes cuja temática é viking, creio,
e imagino que os outros também,
que boa parte da figura imaginati-
va de um viking é, de certa forma,
a mais romantizada (por falta de
uma outra palavra) possível. Ima-
gina-se um homem loiro, de cabe-
los compridos, um capacete com
chifres, um corpo musculoso com
boa parte à mostra (apesar do frio
que faz) e com uma grande arma a
sua disposição para aniquilar seus
inimigos, além de sua selvageria. A
palavra viking era um termo usa-
do pelos países por eles invadi-
dos, e ela tinha várias significados:
piratas, comerciantes, mercenários,
aventureiros, guerreiros, entre ou-
tras. Entre eles, não havia essa de-
nominação. Eram originários da
Noruega, Suécia e Dinamarca, até
começarem a sua expansão num
momento que ficou registrado na
história como “Era Viking” 1 . Os vi-
kings eram considerados pagãos,
crendo em vários deuses, como
Thor, Loki, Frigg e o deus pai de
todos esses deuses, Odin. Com es-
sas invasões e pilhagens, a cultura
deles acabou absorvendo a cultu-
ra dos locais que invadiram e do-
minaram. A principal parte disso,
e que de certa maneira foi a causa
principal do declínio, é o cristia-
nismo. Com o passar do tempo,
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