A revolta dos oprimidos mostra o interesse pela liberdade.“ Liberdade- essa palavra, que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda”( Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência, 1953) é a fonte de empatia que coloca em dúvida a missão dos dois astronautas. Em Blade Runner, os Replicantes se ajudam mútua e emocionalmente para salvar suas vidas enquanto os humanos matam uns aos outros. O próprio personagem de Harrison Ford tem dúvidas de sua origem, entre ser Replicante ou um humano( o filme não deixa claro). Já Dimas Cravalanças, o astronauta de Branco Sai, Preto Fica, apesar de também negro, é membro do Estado brasileiro no futuro de onde veio, o mesmo Estado brasileiro que amputou Sartana e Marquim, mas em contato com eles, reflete sobre o direito à vingança e ao protagonismo na ação contra o opressor. Este sentimento é resignificado na singela música de Roberto Carlos cantarolada pelo Astronauta em dado momento do filme:“ De hoje em diante / Vou modificar o meu modo de vida /(...) Cansei de esperar / De esperar enfim / E pra começar eu só vou gostar de quem gosta de mim”.
No meio de Branco Sai, Preto Fica, os protagonistas registram o áudio de uma banda local que fará parte da“ Bomba Cultural”. Insatisfeito, Marquim pede às backing vocals que, sentadas durante a gravação, se levantem para cantar como num show. Essa vontade de preencher o vazio é o diferencial, pois é o modo de tratar as contradições do fazer fílmico dentro do próprio filme. Os cenários de Branco Sai, Preto Fica são compostos a partir da movimentação das personagens e apenas com luzes diegéticas. Os planos longos, a montagem que por vezes parece amputada, o descompromisso com a continuidade e o uso de atores naturais e moradores de Ceilândia demonstra o interesse em fazer o cinema acima da lógica de mercado. O final de Blade Runner foi modificado por produtores, a contragosto do diretor, para atingir o grande público( a versão“ Director’ s Cut” saiu apenas dez anos depois).
Outra dualidade em Branco Sai, Preto Fica é a afirmação territorial, pois mesmo com a participação de alguns músicos locais, a base da trilha sonora é de canções estrangeiras, as mesmas do baile black que gerou a trama. Isso reforça o ideal de não fugir do passado mas não relembrá-lo com puro saudosismo, além de abrir portas para o futuro,
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