Hatari! Revista de Cinema #05 Ficção Científica | Page 56

como fica evidente na canção que encerra o filme. Como disse o diretor Adirley Queirós, o ideal não é acabar ou fugir das contradições, mas lidar com elas mesmo sem atingir respostas claras, e deu como exemplo o CEICINE, o Coletivo de Cinema em Ceilândia, que produziu o filme: tratar de questões de segregação racial e dentre os cinco integrantes do grupo o único branco ser o diretor - branco como Harrison Ford, Ridley Scott, o escritor desta crítica, como o professor e todos os alunos do grupo de estudos de crítica de cinema que deu origem a este texto, a maior parte dos cineastas do Brasil e provavelmente como os policiais que amputaram Marquim e Sartana. Os avanços tecnológicos do último século promoveram grandes melhorias na vida da humanidade, mas além de não fazerem carros voadores ou uma enciclopédia livre e confiável, não conseguiram acabar com a pobreza, preconceitos e a tirania. Mas a ficção científica nas mãos do oprimido pode ser um instrumento de luta. A diferença principal entre Blade Runner e Branco Sai, Preto Fica está exatamente no uso da ficção científica. No hollywoodiano, ela metaforiza o real e no candango apro- funda a representação subjetiva da realidade. Por Michel Urânia 56